Uma iniciativa pedagógica desenvolvida no Instituto Estadual Romaguera Corrêa tem se consolidado como uma importante ferramenta de conscientização e enfrentamento à violência contra a mulher. Coordenado pelo professor de Sociologia Vagner Carvalho, com apoio da direção da escola, o projeto utiliza a produção de vídeos documentários como metodologia ativa para discutir feminicídio, violência doméstica e as redes de apoio existentes, envolvendo diretamente estudantes do ensino médio.
O trabalho teve início em 2023, no período pós-pandemia, a partir da constatação do aumento dos casos de violência doméstica no país. A proposta apresentada pelo professor à direção foi a de envolver os alunos na produção audiovisual, dividindo-os em equipes de reportagem, filmagem, edição, som e apoio. “Como a educação é o alicerce para uma sociedade mais justa e igualitária, entendemos que era preciso fazer algo concreto dentro da escola”, destaca Carvalho.
A partir disso, os estudantes passaram a entrevistar representantes de instituições que atuam no combate à violência de gênero, como a Brigada Militar, a Patrulha Maria da Penha, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), o Ministério Público e o Centro de Referência de Atendimento à Mulher (Cram).
Reconhecimento Estadual
O documentário produzido superou as expectativas da comunidade escolar e ganhou projeção fora do município, sendo selecionado, em 2023, para apresentações no Ministério Público e na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) em Porto Alegre, além de integrar atividades da Semana Maria da Penha. Segundo o diretor José Luís Alves, o projeto “saiu das mãos da escola” e passou a atingir a sociedade como um todo, ampliando o debate sobre a violência contra a mulher em diferentes espaços institucionais.
Em 2024, com a saída dos alunos que participaram da primeira edição, o projeto foi reiniciado com novas turmas, mantendo a base conceitual, mas incorporando novos elementos. Já em 2025, foi incluído o depoimento de uma mulher que sofreu violência doméstica, além da intenção de, nos próximos anos, ampliar o enfoque para outras camadas sociais, como mulheres negras e mulheres trans. “Cada ano o projeto tem uma roupagem diferente, justamente para alcançar outros grupos sociais e aprofundar a discussão sobre a violência de gênero”, explica o professor.
Metodologia
A metodologia adotada segue os princípios da pedagogia de projetos e das metodologias ativas, com o aluno como protagonista do processo de aprendizagem. Os estudantes organizam entrevistas, produzem vídeos e participam de debates, enquanto o professor atua como orientador. Para a direção, essa abordagem tem aumentado o engajamento, estimulado a autonomia e até influenciado escolhas profissionais dos jovens, além de contribuir para o desenvolvimento da oralidade, do pensamento crítico e da consciência social.
Além da produção audiovisual, o projeto tem impacto direto na formação cidadã dos estudantes. Relatos colhidos durante as atividades mostram que muitos alunos passaram a identificar sinais de relacionamentos abusivos em suas próprias vivências. Um dos exemplos citados pela direção foi o de uma aluna que, após uma palestra da Patrulha Maria da Penha, reconheceu comportamentos controladores do ex-namorado como indícios de um potencial agressor, rompendo o relacionamento a tempo.
O projeto também reforça a importância da escola como espaço de prevenção e observação, especialmente no que diz respeito a mudanças de comportamento de crianças e adolescentes que podem vivenciar situações de violência em casa. Para os idealizadores, embora existam leis e punições, como a Lei Maria da Penha, a educação segue sendo o principal caminho para desconstruir o machismo estrutural e combater, de forma efetiva, a violência contra a mulher.


