Campanha estadual intensifica combate à violência contra a mulher

O governo do Rio Grande do Sul lançou, nesta quarta-feira, 3/12, a campanha “Não Maquie, Denuncie”, uma iniciativa voltada à prevenção da violência contra mulheres e ao incentivo à denúncia. O lançamento acontece em um contexto alarmante: entre janeiro e outubro deste ano, 69 mulheres foram assassinadas no Estado e outras 220 sobreviveram a tentativas de feminicídio, segundo dados do Observatório Estadual da Segurança Pública.

No mesmo período, aproximadamente 40 mil gaúchas registraram algum tipo de agressão, sendo a maioria dentro de suas próprias casas e, na maior parte dos casos, cometida pelo companheiro ou ex-companheiro.

Durante a cerimônia, o governador Eduardo Leite destacou que a atuação governamental também precisa promover transformações sociais. Para ele, combater a violência contra a mulher exige reconhecer que o problema se inicia muito antes do crime fatal. “O feminicídio é o ponto final de uma escalada que começa com atitudes que tentam restringir, calar, controlar. Normalizar esses comportamentos é abrir caminho para o pior”, afirmou.

A secretária da Mulher, Fábia Almeida Richter, apresentou os pilares de atuação da nova pasta, focados na prevenção, proteção, acolhimento e monitoramento. Ela ressaltou que denunciar só é possível quando a vítima se sente amparada. “A segurança nasce do vínculo. A mulher precisa saber que existe uma rede pronta para recebê-la. Mapeamos os serviços e estruturamos essa rede justamente para que ela saiba onde buscar ajuda e encontre um ambiente de confiança para se proteger”, afirmou.

Maquiagem como metáfora

A diretora de Publicidade e Marketing da Secretaria de Comunicação, Natacha Gastal, explicou o conceito da campanha. A maquiagem, símbolo central da iniciativa, aparece como uma metáfora para os sinais de violência muitas vezes encobertos. “A maquiagem pode esconder, mas também pode revelar. Queremos chamar atenção para as marcas invisíveis, aquelas que se escondem atrás de gestos naturalizados ou comentários que diminuem e silenciam as mulheres”, disse.

Ela enfatizou que denunciar não deve ser visto como um ato isolado, mas como uma responsabilidade social. “A violência contra a mulher não é um problema privado. É um problema de todos nós”, explicou.

A campanha também busca envolver públicos historicamente afastados do debate, especialmente os homens. Segundo a secretária Fábia, a segurança feminina é um indicador da saúde social e, por isso, precisa mobilizar toda a comunidade.

Programas para fortalecer mulheres

A criação da Secretaria da Mulher ampliou o protagonismo das políticas de gênero na administração estadual, consolidando ações que já vinham sendo desenvolvidas por diferentes pastas. Entre as iniciativas recentes estão: Programas de empreendedorismo feminino promovidos pelas secretarias de Desenvolvimento Econômico e Inclusão Digital, Cursos de capacitação e apoio à autonomia econômica, especialmente para mulheres rurais.

Também serviço especializado de saúde da mulher (SERMulher), que oferece diagnóstico e tratamento para condições como câncer ginecológico, endometriose e infertilidade, ações de prevenção à violência nas escolas, incluindo a Semana Maria da Penha, eventos de debate sobre direitos humanos, gênero, etnia e religião, realizados pela Secretaria de Justiça.

Além disso, o governo promoveu, no início do mês, o 1º Encontro Estadual de Mulheres, que reuniu representantes de quase cem municípios para discutir desafios locais e estratégias de enfrentamento à violência.

Com a campanha “Não Maquie, Denuncie”, o Rio Grande do Sul busca ampliar a conscientização e transformar a maneira como a sociedade enxerga e reage à violência contra a mulher. A mensagem central é direta, não basta esconder as marcas, é preciso revelá-las, pedir ajuda e fortalecer redes de proteção.