URUGUAIANA JN PREVISÃO

João Eichbaum

O cliente e seu advogado

O Supremo Tribunal Federal saiu do seu lugar, donde nunca deveria ter saído: um lugar fora do foco popular, fora da vasa política, que só arranca adjetivos depreciativos da boca do povo. O STF abandonou o espaço destinado à circunspecção, o lugar apropriado para os exames meticulosos que desembocam na construção da justiça, e passou a ser visto como um agrupamento de mortais comuns, sujeitos a erros, a maldades, a preferências, a fraquezas inconfessáveis, a comentários jocosos, desairosos. Deixou de ser o Olimpo, para expor seu telhado de vidro como mira preferida dos que gostam de apedrejar Genis.

Antigamente, cargos para ministros daquela Corte eram preenchidos sem alardes, sem discussões, sem preferências explícitas. O novo togado só serviria de assunto em boteco para os mais chegados, os operadores do Direito.

Mas agora o cenário é outro. O Supremo está exposto, e age como se seus integrantes não fossem juízes, mas simples personagens de cenas suscetíveis de apupos ou aplausos.

Claro que a imprensa fica de olho, e hoje, além da imprensa, as redes sociais. Então, surgindo uma vaga de ministro, se abre espaço para discussões, preferências e repúdios.

A aposentadoria de Ricardo Lewandowski, mais do que nunca, está servindo para mostrar o Supremo Tribunal Federal como um time de futebol, prestes a contratar novo jogador. Isso mexe com a torcida.

Dessa vez, ao que parece, há candidato único: Cristiano Zanin, o advogado que conseguiu, através de Fachin, tirar o Lula da cadeia. E como em torcida de qualquer clube, o nome do candidato se sujeita a prós e contras, com oposição até no rebanho do PT. E os meios de comunicação saem à cata de comentários, opiniões...

Um dos entrevistados foi Ayres Britto, desentocado lá do Sergipe para vestir toga de ministro do STF, pela mão do Lula. Perguntado sobre a possível indicação de Zanin para o cargo, Ayres Britto, agora aposentado, se saiu com essa: “em bom princípio não parece de bom juízo, porque dá a entender que é uma dívida pessoal, como que obedecendo a um impulso de gratidão, e isso fere o princípio da impessoalidade”. E diz mais o ex-ministro: “é preciso que a sociedade, através da imprensa, seja informada desses requisitos, pois tem que ser uma pessoa experiente, muito experiente, que concilie o consciente emocional e o intelectual...”

É conversa de poeta, do poeta que sempre foi, ou quis ser, o sergipano Ayres Britto. Afinal, só poeta mesmo pode divagar livremente, sem dar explicações objetivas, práticas. Essa coisa de conciliação do “consciente emocional” com o consciente “intelectual”, passa longe daquilo que a Constituição exige para que alguém seja ministro do STF: notório saber jurídico e ilibada conduta.

Claro, todo mundo sabe que não é assim que funciona. Geralmente, a escolha sofre a pressão de lobbies, quer de natureza política, quer por preferências de cor ou sexo.

Mas, no caso, não se pode tirar do Lula o direito de considerar Cristiano Zanin o melhor advogado do mundo. E o Brasil que pague.

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