URUGUAIANA JN PREVISÃO

Marisele Velasques

Não querem trabalhar

No dia 20 de abril Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, em entrevista a CNN Brasil fez declarações sobre os professores que têm nos deixado perplexos.  Sabemos que todos possuem o direito de se expressar e que os políticos precisam se posicionar para de alguma forma ajudar o povo a resolver diferentes situações. Mas o que foi falado por ele precisa ser analisado com cuidado e respeito aos profissionais de educação do nosso país.
Em uma de suas falas ele comenta: "Infelizmente, o Brasil foi abduzido pelas corporações. Não tem nenhuma razão para o professor não dar aula. O profissional de saúde está indo trabalhar, o profissional do transporte está indo trabalhar, o profissional da segurança está indo trabalhar, o pessoal do comércio está indo trabalhar, só professor que não quer trabalhar". Como assim? Nunca deixamos de trabalhar, aliás, abrimos a intimidade das nossas casas e entramos na intimidade dos nossos alunos através das aulas on line com câmeras por todos os lados. Estamos passando horas do dia com computadores e celulares ligados preparando aulas, participando de reuniões, construindo e corrigindo atividades e ao mesmo tempo temos que cuidar do lar e dos filhos. Para os alunos sem acesso a internet, produzimos atividades impressas onde os responsáveis buscam na escola e devolvem dias depois de serem realizadas para corrigirmos. Isso não é trabalhar? Quem sabe ele se expressou errado e quis dizer que: "alguns professores não querem voltar às aulas presenciais enquanto não houver segurança sanitária para isso", pois temos famílias e as crianças também. Somos humanos como todos os outros profissionais e podemos pegar o vírus e transmiti-lo para pessoas de risco. Estamos acompanhando várias perdas e entre elas professores que estão ali na escola trabalhando sim, entregando atividades, conversando com as famílias, convivendo uns com os outros.
Em um primeiro momento pensei que ele só havia se expressado mal, mas na sua entrevista ele falou algo mais decepcionante ainda: "É um absurdo a forma como estamos permitindo que professores causem tantos danos às nossas crianças na continuidade da sua formação. O professor não que se modernizar, não quer se atualizar. Já passou no concurso, está esperando se aposentar, não quer aprender mais nada", disse. Em um ano de pandemia aprendemos tantas coisas novas mesmo com todos os nossos medos e inseguranças, fomos nos atualizando sim com a ajuda uns dos outros, e sabemos que temos muito mais que aprender. Mas dizer que nós estamos causando danos às crianças é o mais entristecedor, porque trabalhamos para nossos alunos, nos formamos para levar até eles aprendizagens e reflexões, fazendo com que se tornem cidadãos críticos capazes de mudar o seu futuro. De uma hora para outra tivemos que nos adaptar e atualizar, estudar sobre Ensino Híbrido, Metodologias Ativas, conhecer novas tecnologias para poder usá-las e tentar levar da forma mais acessível e com base pedagógica aprendizagens significativas para os educandos. Tivemos que investir em novos equipamentos eletrônicos para os encontros virtuais e abrir mão de muitos compromissos para não deixar a bendita internet sem pagar, porque até agora ninguém nos ofereceu algum suporte em relação a isso, salvo os professores do estado que receberam notebooks, e como todo mundo sabe nosso salário chega a ser vergonhoso em relação a nossa formação acadêmica. Mesmo assim continuamos porque acreditamos na educação.
Estamos com saudade do presencial e da convivência, queremos voltar, não é fácil ministrar aulas em frente a um computador ou celular. Mas, pedimos segurança para todos que trabalham nas escolas e para os estudantes também. Nunca deixamos de nos atualizar, é lei que municípios e estados ofereçam Formação Continuada para os educadores. Na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) fala que é direito de todos os profissionais que trabalham em qualquer estabelecimento de ensino oferecer atualização, se houve falha nessa formação com certeza não foi culpa dos professores, e de forma alguma estamos sem trabalhar, ao contrário, hoje não temos mais horários, estamos sobrecarregados e sendo cobrados por coisas que não fazem parte da nossa formação como ser uma pessoa com altas habilidades para trabalhar com tecnologias, e mesmo assim estamos nos dedicando. Acredito que só faz comentários como esses, pessoas que não tem professores em suas famílias e não acompanham o quanto estamos cansados e adoecendo fisicamente e psicologicamente com todas essas mudanças e cobranças.  Lamentável.

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