Ricardo Peró Job
Luzes & Sombras
Ignorantes
A ignorância dos norte-americanos e europeus sobre o Brasil é histórica, mas atualmente atingiu seu apogeu, graças a propaganda negativa feita pelos próprios brasileiros - ou por interesses econômicos (ONGs) ou políticos. Em fins de março, a grande imprensa nacional estampou em suas páginas a previsão divulgada pelo Imperial College, do Reino Unido, sobre o número de infectados e mortos pelo coronavírus no Brasil. Segundo o Instituto, em um cenário pessimista, em agosto, atingiríamos 187 milhões de infectados e 1,1 milhão de mortos. No cenário mais otimista, segundo o Imperial College, atingiríamos em agosto 11,5 milhões de infectados e 529 mil mortos. Para não ficar atrás, na quarta-feira que passou, um âncora da BBC America disse em alto e bom som que o Brasil registra "400 milhões de infectados pelo covid-19". O "número de infectados representa quase duas vezes a população brasileira.
Jabuti absurdo
O deputado federal David Soares, do DEM, é o autor do jabuti inserido num projeto sobre regulamentação de precatórios no período de calamidade pública. A safadeza garantiu o perdão às igrejas em meio à pandemia da Covid-19. O nobre parlamentar é filho do missionário R. R. Soares. Falta a sanção presidencial, mas, como sabemos, há perigo na área, pois o presidente, hoje, enxerga o Brasil pela lógica do Centrão.
Decisão vergonhosa
Segundo o jornal O Globo, o ministro do STF, Gilmar Mendes, e o Procurador Geral da República, Augusto Aras, notórios críticos da Operação Lava Jato, andaram se encontrando à cerca de duas semanas. Na ocasião, teriam discutido os processos que correm contra Deltan Dallagnol no CNMP. Poucos dias depois, Gilmar Mendes liberou o andamento de um processo que pede punição de Deltan por causa de tuítes contra o notório senador Renan Calheiros, do MDB das Alagoas. O caso havia sido suspenso por decisão de Celso de Mello, mas Gilmar revogou a decisão. Esta semana, em mais uma demonstração de que no Brasil o crime compensa e, aqueles que lutam contra isso serão punidos, o Conselho Nacional do Ministério Público, atendendo a uma reclamação do senador Calheiros, um dos políticos mais corruptos do Brasil, decidiu, quase por unanimidade (9 votos a 1), aplicar a pena de censura ao procurador e ex- coordenador da Lava Jato em Curitiba. Renan, mentirosamente, alegou que o procurador usou de seu cargo para interferir na eleição para a presidência do Senado em 2019.
Na realidade, Deltan Dallagnol criticou um senador enrolado em mais de uma dúzia de processos, mas o CNMP interpretou as como "um ataque ao Senado", e não a um parlamentar corrupto. O Conselho justificou a punição de "censura" sob a alegação de o procurador ocupa uma posição cômoda, com estabilidade, e que portanto, não pode emitir opiniões políticas. Gostaria de saber o que o CNMP acha dos ataques e opiniões desferidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal a ministros, membros do Legislativo e ao presidente Jair Bolsonaro. Assim como o STF, o CNMP é uma vergonha nacional.
Na saída
Esta semana, em plena pandemia, na derradeira sessão comandada por Dias Toffoli no Conselho Nacional de Justiça, foi aprovado mais um "benefício" para engordar os minguados ganhos salariais da magistratura. Doravante, o juiz que acumular mais de uma vara de Justiça receberá um adicional (um terço a mais de seu salário). Esta espécie de recompensa já existe na Justiça Federal e na Justiça do Trabalho.
Último tiro
O mar de lama, que voltou a assolar o país, chegou até a alta cúpula do Judiciário e, segundo delação premiada, atingiu até mesmo a "combativa" OAB. Prestes a ser extinta por pressão do crime organizado, a Lava Jato mostrou que vai resistir até a última bala. Em uma operação denominada Esquema S, desbaratou uma quadrilha de advogados e magistrados. Segundo as investigações, a cúpula do STJ chafurda num mar de lama jamais visto. A ação também atingiu advogados corruptos, ligados à magistrados por parentesco, amizade ou favores financeiros. A OAB reagiu, dizendo em defesa dos envolvidos que a operação seria uma "tentativa de criminalizar a advocacia". Dias antes, enrolado com o crime, o ex-presidente da Fecomércio do Rio de Janeiro, Orlando Diniz, contou em delação premiada que o atual presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, pediu dinheiro "em espécie" para a Fecomércio para sua campanha à reeleição da OAB do Rio, em 2014. O dinheiro teria sido viabilizado através de um contrato de fachada.
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