As escolas adaptaram suas formas de trabalhar nesse ano por motivo do isolamento social imposto pelos governos. Com as instituições fechadas, os professores tiveram que se reinventar e se adaptar a nova realidade. O que não foi perguntado ou pensado foi se todos tinham acesso à internet. Aos educadores ficou a responsabilidade de improvisar e se adaptar independente da condição financeira ou física para a construção das atividades remotas, sejam elas ao vivo ou impressas para ser entregues às famílias. Já com os alunos o abismo digital que sempre existiu foi revelado, algo infelizmente normal para quem trabalha em escolas públicas.
Há muito se fala em inclusão digital, internet para as escolas e laboratórios de informática que funcionam com computadores para todos. Mas não é o que acontece. Essa diferença digital sempre houve, mas como nas escolas de periferia pouco ou nada é cobrado em relação a essas tecnologias, já que os professores conhecem a realidade da comunidade na qual a escola está inserida, pouco é discutido sobre o assunto. Enquanto escolas particulares se distanciam em aprendizagens e condições, as públicas nem conseguem acompanhar, e isso só se destacou com mais ênfase nesse momento, já que é nítida a diferença entre o que está sendo oferecido pelas instituições particulares e públicas.
O problema dessa grande diferença não é de agora, é só o resultado de anos de descaso com investimento em educação. Se fala tanto em direitos, políticas públicas, empoderamento, inclusão,?mas as palavras tão bem colocadas em falas anos a fora não mudaram em nada nossa educação. Se discursos bonitos dessem resultados, estaríamos bem a frente do 63° lugar que nos encontramos hoje no ranking mundial de qualidade de educação, que avaliou 76 países a partir de resultados de testes de matemática e ciências aplicados nesses países pelo Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (PISA). Se fossem avaliar o acesso e a facilidade de utilizar mídias digitais de forma geral em nosso país, com certeza o resultado seria pior.
E de quem é a culpa? Com certeza não é do professor que há muito pede por igualdade de condições, investimentos e acesso. Nós sabemos que alunos de periferia possuem a mesma capacidade que aquele que estuda no melhor colégio particular da nossa cidade, o que falta é oportunidade e condições, porque educadores de qualidade e com vontade de ensinar com certeza eles já têm. As eleições estão chegando, avalie os trabalhos e investimentos não os discursos, porque como diz aquele ditado: ?”palavras convencem, mas exemplos arrastam”.


