Jornadas de trabalho irregulares aumentam risco de obesidade, diz USP

Segundo um estudo da Universidade de São Paulo (USP), publicado na revista científica The Journal of Biological and Medical Rhythm Research, jornadas de trabalho irregulares e prolongadas são fatores de risco para aumento da obesidade e do sobrepeso. A privação do sono, o sedentarismo e a má alimentação também têm uma relação direta com essas condições.

A pesquisa foi realizada a partir de uma revisão de literatura de artigos científicos, e aponta que os mecanismos que ligam o trabalho por turnos à obesidade ainda não são totalmente compreendidos, mas podem ter relação com alterações comportamentais causadas por esse tipo de trabalho como horários irregulares das refeições e dessincronização do ciclo circadiano, além de outros hábitos não saudáveis.

Segundo os pesquisadores, toda pessoa exposta a longos períodos de vigília ou submetida a trabalhos com horários em turnos alternados pode apresentar alterações no funcionamento do eixo hipotálamo-hipofisário, que “coordena a maior parte das funções endócrinas, exercendo ação direta sobre a hipófise e indireta sobre outras glândulas, como adrenais, que produzem, entre outros hormônios, o cortisol, que nos deixa despertos e sem sono durante o dia.”

O artigo ainda diz que a privação de sono também resulta na desregulação no funcionamento de hormônios ligados à fome e à saciedade, chamados leptina e grelina, que atuam de forma antagônica no controle do apetite. A grelina, por sua vez, estimula a fome, e a leptina, a saciedade.

Estudos chegaram a mostrar que a redução das horas de sono leva à diminuição dos níveis de leptina e, de maneira inversa, aumenta os níveis de grelina, o hormônio produzido predominantemente no estômago e está relacionado com a maior ingestão alimentar.

Para chegar a essa descoberta, o grupo analisou mais de 700 artigos. A ideia era entender qual seria a prevalência de sobrepeso e obesidade entre profissionais de saúde com escala de trabalho em turnos. Entre 20 artigos capazes de responder tal pergunta, 18 mostraram maior incidência de sobrepeso e obesidade entre os profissionais da área da saúde.

A comunidade científica se concentra em entender e combater a obesidade. Anteriormente, pesquisas apontaram que o ganho de peso tem relação com tipo de alimento, e não com quantidade. Neste ano, em estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, pesquisadores descreveram a descoberta de um método de mudança metabólica que pode ajudar a deter obesidade e até câncer. A técnica consiste em modificar a função de uma enzima essencial para a produção de gordura.