Acidente envolvendo avião que vinha para Uruguaiana completa 75 anos

Por Ângela Bastos 

Há 75 anos, Santa Catarina era palco do, até então, maior desastre aéreo do país. Na tarde chuvosa de 6 de junho de 1949, um avião da Força Aérea Brasileira, batizado de Douglas, DC-3 C-47, colidiu contra uma rocha do Morro do Cambirela, em Palhoça, na Grande Florianópolis. A aeronave, que vinha do Rio de Janeiro, tinha como destino Uruguaiana. Os 28 passageiros, entre eles, recrutas, mulheres e quatro crianças, morreram no local. 

A aeronave se desintegrou. Só muitas horas depois, na manhã seguinte, o socorro chegou ao local. As equipes se valeram do conhecimento de indígenas e de moradores da região, como das comunidades da Praia de Fora, Enseada do Brito, Furadinho e Guarda do Embaú, para acessar a área onde ocorreu a queda. Alguns desses relataram ter visto o avião voando baixo e um barulho como um trovão. Foram três dias para o resgate dos corpos. 

O acidente ganhou manchetes de jornais impressos e agências internacionais. Como a televisão só seria inaugurada no Brasil em setembro de 1950, a divulgação foi feita pelas estações de rádios credenciadas pela Agência Nacional. Detalhes da tragédia estão no livro “O Último Voo do FAB 2023” — em alusão à matrícula do avião — de Silvio Adriani Cardoso, pela Appris Editora. 

A tarde daquele 6 de junho era fria, chuvosa e com nuvens densas e baixas, e exigia voo por instrumento devido à pouca visibilidade. Algo normal, ainda mais para uma aeronave adquirida dos Estados Unidos e com equipamentos de radionavegação considerados de última geração, observa o autor do livro. A dificuldade seria outra: A região não era plana e naquele momento o C-47 2023 se aproximava de uma área montanhosa, praticamente sem referências visuais e sob forte influência do vento que soprava do leste para o oeste, a chamada lestada, o que pode ter ajudado para a tragédia. 

Indígenas e vizinhos ajudaram a abrir trilhas na mata 

Para o livro, Adriani fez pesquisas que duraram duas décadas. O pesquisador acessou documentos, recortes de jornais, testemunhas e parentes das 28 vítimas, assim como remanescentes do grupo de salvamento que enfrentou muitas dificuldades para acessar o local e fazer o trabalho de remoção das vítimas. 

Aficionado por pesquisa e memória aeronáutica, o autor acredita que um conjunto de fatores contribuiu para a tragédia. Porém, as condições climáticas tiveram peso significativo, diz. O pesquisador também resgatou que, na época, Florianópolis era abastecida pelas companhias aéreas Varig, Cruzeiro do Sul, Tal e Panair do Brasil, com voos regulares para as principais capitais.