Covid-19
Psicóloga explica o efeito da pandemia na sociedade
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A pandemia de covid-19 afetou a população mundial de diversas maneiras, mas uma das influências mais fortes ocorreu na saúde mental das pessoas. Desde março de 2020, o mundo foi forçado a modificar rotinas e hábitos, além do fato de ter que se acostumar com a ameaça trazida por um vírus que demonstrou ser perigoso e letal.
De acordo com a psicóloga Elisandra Vieira, a pandemia agiu principalmente potencializando doenças e trazendo o adoecimento mental para algumas pessoas. Inicialmente foi necessário que a população se isolasse e não saísse de casa e não se reunisse em ocasiões habituais. Esse aspecto muitos sentiram, uma vez que o ser humano é um ser social.
"A ausência de contato com outras pessoas, do toque físico e da socialização reduziu o núcleo familiar e de amizades aos moradores da mesma residência. Os círculos ficaram muito pequenos. Isso fez as dificuldades de relacionamento aparecerem e se intensificarem. Essa quebra de socialização também desencadeou discussões, separações e até mesmo o surgimento de violência doméstica", explica.
O medo é um sentimento que aumentou muito durante o confinamento. A psicóloga explica que por medo de adoecer, as pessoas ficaram com a mente doente devido a intensificação desse sentimento. "Parte da população desenvolveu fobias e Transtornos Obsessivos Compulsivos (TOC) em função da higienização e dos cuidados para evitar o contágio. Porém, isso se tornou um pouco mais patológico", alerta.
Atualmente, em um cenário quase que pós pandêmico, pode-se observar que uma parcela das pessoas ainda está com medo de se aproximar de outras. É notável a dificuldade de reestabelecer vínculos sociais. "Embora elas desejassem muito esse reencontro, ainda há a presença do medo de cumprimentar e se reaproximar de pessoas que foram do convívio diário. Muitos não conseguem ainda tirar a máscara, demonstrando um verdadeiro pânico. Alguns ainda não conseguiram sair de casa por medo de encostar em outras superfícies", diz Elisandra.
No consultório, a psicóloga percebeu que a ansiedade e a síndrome do pânico têm sido muito mais frequentes, como nunca visto. Pacientes queixam de sintomas desses transtornos alegando que não conseguem estar em lugares com maior número de pessoas. São apresentados também sintomas físicos como respiração ofegante, falta de ar, taquicardia, agitação e tensão. Além dos transtornos individuais, Elisandra pôde notar um aumento de relacionamentos afetados. "As pessoas não estão conseguindo muito bem se relacionar umas com as outras".
O medo da morte é um problema recorrente apresentado por pacientes. "O medo de morrer é algo que tem sido bem forte. Muitas vidas foram dizimadas nesse período de dois anos. A morte esteve muito perto, rodeando muitos, então as pessoas cultivaram o medo de morrer e de perder entes queridos", conta. Dessa maneira, de uma forma até inconsciente, pessoas evitam situações que podem conectar com o assunto "morte". Muitos ainda sentem pânico de pensar sobre o tema.
O período de isolamento social impacta não somente a geração atual como também as próximas. "Ainda não é possível ter a real dimensão do quanto isso irá impactar ainda na vida da população. Estudos apontam que no aspecto psicológico e emocional a pandemia alcançará gerações a frente devido a esse tempo em que vivemos isolados", conta.
A psicóloga explica que o que deverá afetar as próximas gerações é principalmente a questão dos relacionamentos. O fato de crianças e adolescentes terem ficado muito tempo isolados interfere nas relações futuras. Além do que afeta a maneira de enfrentar e de olhar o mundo. No entanto, a dimensão dessas consequências não podem ser previstas ao certo, deixando apenas na subjetividade.
Como amenizar os sintomas
O recomendado é buscar ajuda psicológica, entretanto, muitas pessoas têm preconceito e vergonha de realizar um tratamento. Além disso, parte das pessoas não tem condições de investir financeiramente em ajuda profissional. Tendo em vista essa situação, Elisandra orienta que parte dos sintomas podem ser aliviados através da respiração. "Exercícios de respiração como observar e sentir o ar entrando e saindo do corpo já ajuda bastante. O ansioso passa o dia na correria e respira só superficialmente, de maneira mecânica".
Outra forma de perceber e lidar com os sentimentos citada pela psicóloga é escrever. "Em um papel ou diário, a pessoa pode anotar os sentimentos como medo, preocupação, angústia, ansiedade e racionalizar sem precisar se preocupar se a gramática está correta. Se por acaso o escritor não puder guardar, basta destruir o relato, seja queimando, rasgando, mas o exercício foi feito", indica.
A atividade física também auxilia em diversas formas. Elisandra recomenda sair para fazer uma caminhada, contemplar a natureza, admirar os pássaros, tomar sol, entre outras atividades ao ar livre de maneira a transformar a saída em algo prazeroso. Outro jeito de ajudar a atenuar os sentimentos negativos é brincar com pets, crianças, jogos de tabuleiros, recreações que desenvolvam a parte lúdica.
Elisandra também indica buscar desenvolver novos hábitos. "Sempre queremos aprender algo novo, e isso ajuda em diversos aspectos. Por que não começar aquilo que está sendo postergado há tempos?", questiona. Outra forma de aliviar a solidão e sentimentos de ansiedade é telefonar para um amigo. Buscar entretenimentos como livros, filmes, música e dança. "O importante é colecionar momentos que tragam satisfação. Em casos clínicos é necessária a intervenção profissional, mas essas atividades ajudam", afirma.
Muitas pessoas acreditam que a ajuda profissional é somente a que um psicólogo ou psiquiatra pode fornecer de maneira individual. Contudo, a psicóloga explica que existem grupos de terapia que trabalham a saúde mental que podem ser uma opção. "Participar de um workshop ou adquirir um livro que aborde o assunto são possibilidades de encontrar ajuda para a necessidade específica daquele momento", finaliza Elisandra.
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