O talento e a disciplina de duas jovens atletas colocaram Uruguaiana em evidência no Campeonato Nacional de Tiro Desportivo, promovido pela Liga Nacional de Atiradores Desportivos (Linade). Maria Antônia Karsburg, de 11 anos, e Maria Clara Dalcastagnê, de 10 anos, figuram entre os cinco melhores do país na categoria júnior da modalidade Carabina de ar comprimido 4,5 mm – mira aberta – 10 metros.
As atletas representam o Clube de Tiro Uruguaianense (CTU) e, mesmo com pouca idade, já acumulam resultados expressivos em competições de nível municipal e nacional, demonstrando maturidade esportiva e alto nível de concentração. Além delas, Luiza Falcone, também de 11 anos, conquistou a 12ª posição no ranking.
Por trás do desempenho das jovens atletas está o trabalho do instrutor José Eduardo Garcez Karsburg, que acompanha de perto a evolução das meninas e não esconde o orgulho pelos resultados alcançados. Com quase 40 anos de dedicação ao tiro desportivo, ele afirma que a conquista vai muito além de medalhas.
“Isso não tem explicação. Todo o meu trabalho é gratuito, faço por amor à camiseta e por amor ao esporte que elas adotaram”, destaca. Segundo ele, o nível atingido pelas atletas costuma exigir, no mínimo, três anos de treinamento contínuo. “Elas chegaram aonde estão em dois anos, dois anos e meio. Isso só foi possível porque tiveram persistência, disciplina e organização. Hoje, estão entre as melhores do Brasil.”
Karsburg relembra como começou no esporte. “Nós atirávamos no estande de tiro do 22º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC AP), e houve a possibilidade de fazer um estande de tiro no Circo Militar de Uruguaiana. E ali nós montamos uma oficina, uma aula de tiro, visando chamar novos atiradores e construir o estante. Cobrávamos um salário-mínimo dos participantes para a construção”, conta. A partir daí, Karsburg se especializou no tiro de precisão, modalidade olímpica também praticada pelas meninas.
Maria Antônia é neta de Karsburg e demonstrou interesse pelo esporte em 2022. Já Maria Clara começou a treinar em 2023, seguido os passos do pai, Giovani Dalcastagnê, amigo do Treinador.
Segundo Karsburg, o interesse das crianças é fundamental para o desenvolvimento no esporte. “Não adianta o pai ou o avô querer. A criança precisa gostar”
O treinador também ressalta a intensidade da rotina de treinos e a seriedade com que as atletas encaram a modalidade. “O treinamento é semanal, o ano inteiro, inclusive nas férias. Elas não brincam em serviço, basta ver a premiação que conquistaram”, afirma. Para ele, o sucesso no tiro está diretamente ligado ao preparo emocional. “O tiro é 75% psicológico. A técnica é pouca. O segredo é treinar, treinar e treinar.”
Karsburg vê no desempenho das meninas uma realização pessoal. “Para mim, que já fiz 40 anos de tiro e já fui bom no tiro de precisão, poder ajudar elas e outras pessoas – também dou algumas palestras nos clubes de tiro – é uma satisfação enorme. Estou em final de carreira e me sinto realizado com isso. Não imaginas como é bom ver esse resultado”, completa.
Para Maria Antônia, o quarto lugar no ranking nacional representa o reconhecimento de um esforço constante. “Esses troféus e medalhas demonstram o esforço que a gente fez. A cada ano a gente evolui um pouco mais. Ficar em 4º e 5º lugar no Brasil todo é muito bom”, conta. Ela também destaca os benefícios do esporte no dia a dia: “Ajuda muito na concentração. Hoje eu me concentro muito mais.”
Maria Clara compartilha do mesmo sentimento. “Eu fico muito feliz em atirar. Quando ganho um prêmio, é uma forma de mostrar que consegui realizar algo que treino para conquistar”, diz a jovem atleta.
A trajetória das meninas começou em competições municipais, no Clube Pampa, onde, segundo o treinador, sempre foram bem acolhidas. Os resultados nacionais também são atribuídos ao apoio do CTU e ao empenho de seus representantes. “Eles foram incansáveis, abriram portas e permitiram que elas saíssem da bolha regional para competir com as melhores do Brasil”, ressalta José Eduardo.


