Distorção
OMS afirma que pacientes assintomáticos transmitem covid-19
A declaração da diretora técnica da Organização Mundial da Sáude (OMS), Maria Van Kerkhove, de que a transmissão da Covid-19 por pacientes assintomáticos é 'muito rara' causou grande repercussão, inclusive no Brasil, o que levou a entidade a esclarecer a situação.
A retificação do discurso partiu da própria Van Kerkhove, no início de uma transmissão ao vivo da OMS nas redes sociais para responder a perguntas da população. A líder técnica afirmou que houve um "mal-entendido" a partir de uma resposta em uma coletiva de imprensa concedida na segunda-feira, 8/6. Segundo ela, seu comentário não era uma declaração oficial sobre uma política da entidade.
A OMS esclareceu que a transmissão da covid-19 está, sim, ocorrendo a partir de casos assintomáticos da doença, mas ainda não há conclusões sobre a proporção. A declaração anterior da diretora foi usada pelo presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira, 9/6, para defender a flexibilização da quarentena.
"Temos pouquíssimos estudos - dois ou três - que tentaram acompanhar casos assintomáticos ao longo do tempo. É uma amostragem pequena. Falei que a transmissão por pacientes sem sintomas é 'muito rara', e isso pode ter causado o mal-entendido. Estava me referindo a estudos e a alguns dados que ainda não foram publicados. O que recebemos dos Estados-membros é que, quando acompanhamos os casos assintomáticos, é muito raro encontrar uma transmissão secundária", justificou-se Van Kerkhove.
O diretor do programa de emergências da OMS, Michael Ryan, foi ainda mais enfático sobre o assunto. Ele garantiu estar "absolutamente convencido" de que a transmissão por pacientes assintomáticos está ocorrendo. "A questão é saber quanto", complementou.
De acordo com Van Kerkhove, as estimativas sobre a quantidade de pessoas assintomáticas no mundo são bastante prematuras. Até o momento, as pesquisas sugerem que uma faixa entre 6% e 41% da população global pode ter contraído o novo coronavírus sem manifestar sintomas da doença.
Rapidamente especialistas brasileiros citaram fatos ocorridos no país, que reforçam a possibilidade de transmissão mesmo que o paciente não apresente sintomas. É o caso do coordenador do controle de doenças da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, que lembrou a contaminação de pessoas após o contato com quem havia voltado assintomático de viagem do exterior e um casamento em Trancoso, na Bahia. "O que a OMS quis dizer é que a probabilidade de alguém sem sintomas transmitir o vírus é baixa. Mas, aqui no Brasil, houve um encontro de quem veio do exterior com outras pessoas. Após esse encontro, ele desenvolveu sintomas e procurou assistência médica. Semanas depois, pessoas que tiveram contato com ele apresentaram sintomas. Outro episódio é o do casamento onde pessoas que ainda não apresentavam sintomas transmitiram o vírus a outros", afirmou Menezes.
'Pré-assintomáticos'
A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da OMS nas Américas, destacou a diferença entre as pessoas assintomáticas - infectados que não apresentam sintomas - e as pré-sintomáticas - pacientes na fase inicial da doença que ainda não manifestam sintomas. "Os dados científicos, até o momento, mostram que é menos provável ter o contágio a partir de uma pessoa totalmente assintomática, em comparação com as pré-sintomáticas", explicou o gerente de incidentes da Opas, Sylvain Aldighieri.
O órgão regional também se posicionou a respeito da polêmica na divulgação dos números da covid-19 no Brasil. Para o diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis, Marcos Espinal, é válido revisar os dados, assim como China e Nova York já fizeram, desde que as estatísticas continuem sendo repassadas a todos. No último sábado, 6, o Ministério da Saúde manifestou interesse em recontar as mortes pelo coronavírus no País. "Não é ruim revisar os dados. Mas recomendamos que os dados de todos os países sigam sendo informados, porque permite a nós e aos próprios governos ter uma visão clara do que está acontecendo. Permite, também, que os autores de políticas públicas saibam como planejar o combate à doença", disse Espinal.
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