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Cátia Liczbinski
A masculinidade digital e o ódio às meninas

“Educai as crianças para que não seja necessário punir os adultos” (Pitágoras)
O ser humano passa por transformações durante a sua vida, biológicas e físicas. O momento que marca uma das maiores transformações que passamos é a adolescência, que indica um tempo de descobertas, conflitos e construção de identidade. Nos últimos anos, esse processo tem sido moldado de maneira preocupante pelas redes sociais, especialmente entre os meninos. Numa fase em que deveriam estar aprendendo sobre respeito, afeto e convivência, muitos estão sendo capturados por um discurso cada vez mais comum nas plataformas digitais: o ódio às meninas.
Esse fenômeno não nasce do nada. Influenciadores que se apresentam como “mentores”, ou “homens de verdade” conquistam a atenção de meninos com discursos sedutores, que misturam autoajuda com misoginia. Em vídeos e posts virais, meninas são tratadas como interesseiras, falsas, inferiores ou inimigas. O amor é ridicularizado. A empatia é vista como fraqueza. O machismo se disfarça de humor ou "liberdade de opinião", e o resultado é um terreno fértil para o crescimento de posturas agressivas, indiferentes e desumanizadoras.
A série “Adolescência" aborda os desafios vividos por meninas e meninos na fase de construção da identidade em um mundo hiperconectado. Entre os principais problemas enfrentados estão o impacto emocional das redes sociais, a pressão por padrões inatingíveis, o silêncio sobre sentimentos e, de forma crescente, a disseminação de discursos de ódio, especialmente entre meninos influenciados por conteúdos misóginos. A série destaca a importância do diálogo com as famílias, da presença afetiva e da educação para o respeito e igualdade de gênero como caminhos para enfrentar essa realidade.
Percebe-se meninos reproduzindo falas violentas sem compreender a profundidade dessas palavras. Muitos começam a tratar meninas com desprezo, a recusar qualquer forma de afeto ou vulnerabilidade, a transformar o ódio em identidade. E, na ausência de diálogo em casa ou na escola, essa lógica se aprofunda, silenciosamente.
É fundamental entender: essa não é apenas uma fase, é um problema social que afeta toda uma geração. Por trás das telas, há meninos perdidos, buscando pertencimento e orientação e encontrando, infelizmente, influências que os ensinam a desprezar as meninas, o amor e a si mesmos.
Pais, mães e educadores não podem ignorar esse sinal de alerta. É fundamental conversar com os filhos, observar as mudanças de comportamento, saber quem são os “ídolos” que acompanham, que tipo de conteúdo estão consumindo. Também falar sobre respeito, emoções, masculinidade e igualdade de gênero, temas necessários na infância e adolescência.
É hora de ensinar que ser homem não é ser superior, agressivo ou insensível. Ser homem é também saber sentir, cuidar, ouvir e se responsabilizar pelas próprias atitudes. É entender que nenhuma masculinidade precisa ser construída sobre o desprezo pelas meninas.
O que os meninos estão aprendendo sobre si mesmos e sobre as meninas nas redes sociais pode definir o tipo de adulto que eles serão. Cabe às famílias, escolas e sociedade mostrar outros caminhos, com presença, escuta e afeto.
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