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Tráfico de drogas

Cocaína traficada em Uruguaiana é adulterada em até 85%

Divulgação imagem ilustrativa - fireção ilustrativa -

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) revelou que a cocaína traficada no Rio Grande do Sul pode ser totalmente adulterada. O resultado foi divulgado nesta quinta-feira, 31/3. O primeiro objetivo do estudo foi quantificar o teor da cocaína nas amostras, ou seja, a pureza da droga. A pesquisa revelou que este teor de cocaína varia de 0% a 78%.

O estudo avaliou um total de 141amostras ao redor do Estado. São 97 amostras da Região Metropolitana, que engloba Porto Alegre, Canoas, Viamão, Gravataí; 17 da Região Sul - Rio Grande; 11 da Região Norte - Erechim; dez amostras da Região Central - Santa Maria; e, seis amostras da Região Oeste que incorpora Uruguaiana.

A maior variabilidade de concentrações foi encontrada na região metropolitana, mas o baixo padrão de concentração de cocaína também foi encontrado em amostras provenientes do interior do Estado. Na região oeste, onde se enquadra Uruguaiana, a média aproximada do teor de cocaína ficou entre 15% e 35%. Isso representa que entre 65% e 85% da droga é adulterada com outros aditivos. Já na região norte o teor de cocaína é de 16 e 40%; na região central é entre 13 e 42%; e, por fim, na região sul, o teor de cocaína nas amostras ficou entre 14 e 41%.

De todas as amostras avaliadas, apenas 30% possuíam mais do que 40% de cocaína em sua composição. Em Porto Alegre, das 54 amostras analisadas, 35 tinham menos de 50% de teor de cocaína. Em Gravataí, nenhuma das dez amostras apresentou mais do que 40% de cocaína na composição. Em Canoas, apenas uma amostra tem mais do que 50% de cocaína. Umas das amostras analisadas continha 0% de teor da droga, ou seja, o produto vendido como cocaína era, na verdade, majoritariamente composto por tetracaína.

De acordo com a chefe da Divisão de Química Forense do Departamento de Perícias Laboratoriais (DPL), Lara Soccol Gris "acreditamos que a cocaína já chega ao RS adulterada em algum grau. Porém, como existem muitas facções atuando no Estado e o objetivo final do tráfico é o lucro, a cocaína é mais adulterada ainda ao chegar aqui. A pesquisa pode contribuir para a identificação dessas rotas do tráfico".

Segundo o responsável pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), delegado Nilson de Carvalho, esse levantamento confirmou as informações que a Delegacia possuía, no sentido de que a cocaína vendida em Uruguaiana possui um baixo grau de pureza, não passando de 35%. "Algumas amostras analisadas pelo IGP chegaram a apresentar apenas 15% de cocaína. Ou seja, com a mistura de outras substâncias à cocaína, os traficantes aumentam muito seus lucros e ainda expõem os usuários a riscos desconhecidos, podendo, dependendo das circunstâncias, levá-los inclusive à morte", afirma

O Delegado conta que isso somente reforça a ideia de que não há níveis seguros de consumo de cocaína, especialmente porque o usuário sequer sabe o que efetivamente está comprando. "Tenho certeza de que os traficantes não estão preocupados com os riscos que essas substâncias adulterantes podem causar aos usuários de cocaína, pois eles não têm escrúpulos, pensam unicamente no lucro", finaliza o titular da especializada.

A droga

A cocaína é um poderoso estimulante do sistema nervoso central. O uso pode provocar problemas cardiovasculares, respiratórios, neurológicos e gastrointestinais, que vão de uma simples náusea até a morte. Por ter baixo rendimento nos processos químicos para obtenção, a cocaína é uma das drogas mais adulteradas no Brasil. O país está no preocupante segundo lugar no ranking mundial no consumo da droga, ficando atrás apenas dos Estados Unidos da América.

Segundo a técnica em perícias e autora do estudo, Bárbara Cerveira, do preparo até o refino, são adicionadas várias substâncias, fazendo com que a composição varie amplamente. "Ao diminuir a pureza e aumentar o volume de droga vendida, o lucro dos traficantes aumenta. Isso faz com que a composição da droga seja imprevisível, o que traz grandes riscos à saúde do usuário".

Adulterantes também são perigosos

O segundo objetivo do estudo foi determinar quais substâncias foram adicionadas para adulterar a droga. Em 42 das 141 amostras analisadas, foram encontrados cinco adulterantes: cafeína, lidocaína, tetracaína, orfenarina e benzocaína.

Os adulterantes orgânicos geralmente possuem propriedades anestésicas e estimulantes. Eles agem sobre o sistema nervoso central, alterando o estado mental e autocontrole do indivíduo e diminuindo a percepção de responsabilidade do usuário por suas ações. Na região metropolitana, 62% das amostras estavam adulteradas com cafeína, o adulterante com maior presença. Em seguida vem a lidocaína, encontrada em uma a cada cinco análises.

A cafeína é um estimulante do sistema nervoso central. Se consumida em grandes quantidades, possui efeitos indesejáveis como distúrbios de sono e humor, constante estado de alerta, ansiedade, inquietação e irritabilidade, levando o indivíduo à dependência. O adulterante é majoritário, possivelmente por ser de baixo custo e fácil acesso comparado aos anestésicos em geral.

A lidocaína, a benzocaína e a tetracaína são anestésicos utilizados em clínicas para pequenos procedimentos e cuidados pós-cirúrgicos. Se administrados em grandes quantidades podem provocar desde efeitos como tontura, distúrbios visuais, sonolência, vômito, cianose, síncope, convulsões. Além disso, podem trazer efeitos cardiovasculares como bradicardia, fibrilação arterial e arritmias, coma e até morte.

O composto orfenadrina é um relaxante muscular. Dentre seus efeitos adversos mais comuns estão: ataxia, distúrbios da fala, taquicardia, dilatação da pupila, tontura, alucinações e sonolência.

Em 2021, o IGP analisou mais de 54 mil amostras de drogas, provenientes de todo Estado do RS. De acordo com dados da Secretaria Estadual da Segurança Pública, no ano de 2020 foram registradas 143 882 ocorrências relacionadas ao tráfico e uso de drogas no Brasil. Destas, 13 486 ocorrências são do Rio Grande do Sul. O estudo de impureza da droga pode contribuir para compreender melhor o perfil de atuação das facções no Estado no RS, além de servir como alerta à saúde pública.


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