BRIANE MACHADO
Estado de alerta
Honestamente, há alguns minutos eu não fazia ideia do assunto que abordaria na coluna da semana, tendo em vista que, ultimamente, o que mais tem gerado inúmeros tópicos é a pandemia que estamos enfrentando e todas suas vertentes.
É difícil escrever sobre fatos que não temos tanta propriedade assim, porém, há sempre alguma coisa a ser tratado, principalmente, se levarmos em conta os problemas atuais que enfrentamos sobre os mais diversos óbices.
Logo, estava olhando uma rede social e me deparei com um "post" sobre uma série de curtas (intitulada "Como é um assédio?") que mostra situações de assédio muito comuns enfrentadas por mulheres, a qual foi produzida pelo ator David Schwimmer, o Ross da sitcom Friends.
A partir de uma pequena demonstração, percebemos a métrica que os homens utilizam para abordagens não tão explícitas quanto a violência sexual, mas de igual repulsa, o que nos faz perceber a necessidade de alimentar o ego com poder.
Seja em ambiente de trabalho, na faculdade, em transporte público ou através de um "elogio" disfarçado, estamos sempre à mercê de situações constrangedoras e, que em cem por cento das vezes, não foram provocadas, como muitos dizem.
Nós, mulheres, vivemos em constante vigilância, isto é, antes de falar, agir, pontuar, esclarecer, pensamos em cada uma das vogais e consoantes para que sejam interpretadas da forma correta; nossos movimentos são extremamente calculados. Sentimos receio e a necessidade constante de entrarmos em uma prisão imaginária a fim de estarmos protegidas.
Evitamos andar por ruas pouco iluminadas, de sair à noite para um encontro com as amigas, de estacionar o carro muito longe de onde precisamos ir.
Escolhemos a dedo o tamanho das roupas, a cor do batom, a altura do salto.
Em cidades onde o calor é desumano, precisamos praticar atividades físicas cobertas dos pés a cabeça, principalmente, se formos caminhar sozinhas em um parque. Enquanto isso, homens fazem questão de correr sem camisa - pois têm a certeza que não sofrerão qualquer tipo de assédio do público feminino.
Logicamente, estamos falando de uma parcela de homens que ainda se acha no direito de proferir qualquer frase, piada sem graça ou ato repulsivo a uma mulher.
Porém, essa parcela existe. E é extremamente difícil viver com inúmeros problemas para resolver e ainda ter a preocupação prévia de que "eu não posso me vestir assim porque posso ser assediada".
A mulher passou a ser vista como um objeto.
Somos filhas, mães, irmãs, amigas, namoradas, noivas, esposas, geramos a vida, porém, precisamos implorar por respeito.
"Mas a mulher tem que se dar o devido respeito" - eles disseram.
A mulher se respeita e faz as suas escolhas baseadas naquilo que ela acredita e decidiu ter em sua vida. O respeito do outro em nada se coaduna com o fato de ela decidir usar uma roupa curta ou um batom vermelho. Ela não está fazendo um convite, mas exercendo a sua liberdade de ser quem quiser ser.
Não gostamos de "piadinhas"; não suportamos pessoas invasivas; não toleramos homens que se acham superiores e pensam que o "poder" que o assédio lhe dá resulta em algo diferente daquela palavra que virou um bordão na atualidade: ranço.
A todos os homens que nos apoiam, nos escutam e nos dão voz: Muito obrigada!
A todos os homens que acham todas as palavras expostas acima um amontoado de bobagem ou que veio a sua cabeça "mas tem umas que pedem": Apenas, pare!
A todas as mulheres que, assim como eu, lutam para mudar a existência feminina: contem comigo para um futuro melhor.
Estamos juntas e em estado de alerta permanente.
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