Ricardo Peró Job
Luzes & Sombras
Meu mundo caiu
Mesmo tendo dedicado bastante tempo de minha vida na busca por um entendimento do mundo em que vivemos, baseada na leitura, no diálogo ou no debate de ideias, atualmente tenho tido certa dificuldade em entender certas tendências estéticas e "culturais" adotadas no Brasil.
A hiper sexualização e super exposição da imagem da mulher, por exemplo, antes vista e combatida pelas feministas das décadas de 70 e 80 como uma mercantilização vulgar do corpo feminino, hoje é vista pelas mesmas como um ato de "empoderamento", uma forma de libertação. Em minha juventude, tal exposição era vista como uma forma de opressão masculina sobre a mulher. Hoje, enquanto é apregoado insistentemente pelas feministas e pela mídia o fim dos padrões de beleza feminina, o que se vê na prática é que através de intervenções cirúrgicas totalmente desnecessárias ou outros artifícios estéticos, a maioria das "celebridades" femininas passou a ter a mesma fisionomia, algumas até mesmo beirando a deformação facial.
Na música, o quadro é mais aterrador. Ritmos musicais antes conhecidos e apreciados em todo o mundo, como o Samba e a Bossa Nova, com nomes como Noel Rosa, Cartola, Paulinho da Viola, João Gilberto, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque de Holanda e tantos outros, sumiram do mapa. Intérpretes do quilate de Maísa, Elis Regina, Gal Costa e Simone, caíram no ostracismo. Até mesmo a música inteligente de tendências internacionais com tempero brasileiro dos Novos Baianos, Mutantes, Raul Seixas, Belchior, Djavan, Cazuza e tantos outros, desapareceu da mídia, juntamente com as modas de viola e as manifestações regionais, como a nativista do Sul e o forró do Nordeste. Deram lugar ao a chamada erroneamente de música "sertaneja", ao Axé e ao funk. A "sertaneja", na realidade um ritmo indefinido com letras bregas, muitas delas "engraçadinhas" com duplo sentido, já era sucesso com intérpretes como Odair José, Cesar Sampaio, Genival Lacerda e outros nos anos 70. Dia destes o cantor Victor, da dupla Victor e Léo, uma das poucas com alguma qualidade neste meio, ao se referir ao atual momento da dita música sertaneja disparou: "Não deixaria meus filhos ouvirem a maioria das músicas sertanejas atuais. Pornografia e sensualidade excessiva em canções não são para criança ouvir".
O axé, com suas "cantoras" que mais parecem estar dando uma aula de ginástica rítmica no palco, sofre de pobreza musical e inanição nas letras. O funk é um caso à parte. O chamado "pesado" ou "verdadeiro", copiado dos bairros negros das grandes cidades norte-americanas por moradores das favelas do Rio de Janeiro, com suas letras recheadas de palavrões e pornografia, muitas fazendo apologia ao crime, carece de musicalidade e originalidade, tornando difícil saber quando termina uma peça e começa outra. Já em sua modalidade "chique", cuja representante maior é a "cantora" Anita, saem de cena as agressões à polícia e a apologia ao crime, mas além da manutenção das letras repletas de referências sexuais, gritos e sussurros, seus "artistas" levam ao palco performances hedonistas e simulações de conjunção carnal. Também não é original. Nos anos 70 e 80, a "cantora" Gretchen, embora com mais recato, já fazia isso. Também em lugares especializados como o Gruta Azul, Madrigal e outros da capital gaúcha, as meninas da casa, em seus shows, já se utilizavam de tais artifícios, embora com mais talento.
Ao que parece, passamos a viver em uma sociedade individualista e hedonista, onde se busca apenas o prazer baseado em relações instantâneas e fugazes, onde impera superficialidade e a mediocridade.
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