Luzes & Sombras
Meus caros amigos
Quando o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou que a revista Crusoé retirasse do ar uma reportagem que revelava um documento recolhido pela Lava Jato apontando o ministro e então presidente do STF Dias Tóffoli como um dos envolvidos em casos de corrupção durante os governos petistas, em minha coluna semanal neste jornal alertei para o perigo que tal atitude por parte da Suprema Corte representava. Era a volta da censura no país. O título da reportagem era "O amigo do amigo de meu pai". O "amigo de meu pai" era Luiz Inácio da Silva, o "Lula", como todos já sabiam. Já o "amigo do amigo", segundo a Cruzoé, Dias Tóffoli.
Na ocasião, muitos "festejaram" o golpe na revista por serem seus articulistas responsáveis por diversas denúncias que terminaram por atingir membros dos governos anteriores, e a grande imprensa, sempre engajada, fingiu ignorar o perigo do ato repressor. Afinal, a Cruzoé representava a maior força da nova mídia eletrônica, adversária dos tradicionais meios de comunicação.
Lembrei também em meu artigo que a censura rediviva acabaria por atingir a todos, não importando as preferências políticas, além de blindar o STF de qualquer investigação ou crítica. A própria Suprema Corte, suposta "guardiã da Constituição, abrira as portas para que qualquer notícia que desagradasse aos poderosos pudesse ser adjetivada como "fake news", e seus divulgadores censurados e punidos.
Foi o que aconteceu. Embalados pela couraça da impunidade imposta por Alexandre de Moraes e elevados a semi-deuses intocáveis, passaram a ameaçar qualquer um que ousasse criticá-los. Com a blindagem, o STF passou também a governar o país, anulando atos do Executivo, do Legislativo e ignorando a Constituição.
Mas voltemos aos dias de hoje. Dando continuidade à sua delação, nesta terça-feira Marcelo Odebrecht enviou um documento que traz alguns esclarecimentos solicitados pela Polícia Federal. Este documento agora faz parte de um dos processos da Lava Jato que tramitam na Justiça Federal de Curitiba. Nele, o empreiteiro responde a uma indagação da PF sobre os codinomes que aparecem em emails trocados em 2007 entre ele e dois altos executivos da Odebrecht, Irineu Berardi Meireles e Adriano Sá de Seixas Maia. Entre outras, a PF queria saber quem seria o "amigo do amigo do meu pai". Era mesmo Dias Tóffoli.
Nos emails em questão Marcelo Odebrecht pergunta aos dois: "Afinal vocês fecharam com o "amigo do amigo do meu pai?". Adriano Maia responde: "Em curso".
Na época da troca de emails, Toffoli era assim chamado pelos executivos da empreiteira em conversas privadas, quando este ocupava o cargo de advogado-geral da União. Naquela ocasião a Odebrecht tentava aprovar projetos importantes com o corrupto governo Lula, entre elas, as hidrelétricas do Rio Madeira. A Odebrecht esperava que a AGU interferisse positivamente em seu projeto. Os processos correm em segredo de Justiça, portanto, a blindagem protege o "Amigo do amigo". Mas o STF deve um posicionamento para aqueles que pagam seus gordos salários, o povo brasileiro.
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