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Inovação
Universidades desenvolvem projeto de Centro de Inteligência Climática

Reprodução - Rede de observação será descentralizada e contemplará pontos em todo o oeste do RS, e diferentes pontos no Uruguai
A região da fronteira entre o Brasil e o Uruguai está prestes a receber um Centro de Inteligência Climática. A proposta foi concebida por um grupo de trabalho liderado pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa), com o envolvimento da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da Universidade Tecnológica do Uruguai (Utec). A instalação está prevista para o Parque Tecnológico Binacional de Sant’Ana do Livramento.
Segundo o professor Vagner Anabor, do Programa de Pós-Graduação em Meteorologia da UFSM, o centro terá como foco inicial a análise de eventos climáticos extremos, contribuindo com estratégias para reduzir seus impactos. Por meio da modelagem atmosférica, o centro pretende oferecer mais previsibilidade e segurança para empreendimentos tanto urbanos quanto rurais.
“Trata-se de uma mudança de paradigma para o desenvolvimento econômico. O Rio Grande do Sul tem diante de si uma oportunidade singular”, destacou Anabor, que integra o grupo de trabalho. O docente enfatizou que, além dos já conhecidos desafios enfrentados por quem empreende – como questões legais, de mercado e responsabilidade social –, o clima passou a ser um fator determinante, especialmente diante do aumento na frequência de fenômenos extremos, como as enchentes de 2024.
A iniciativa visa fornecer dados relevantes para fortalecer negócios já existentes e estimular novos investimentos no parque tecnológico ou em outras áreas atendidas pela rede de monitoramento descentralizado. O projeto inclui o mapeamento de impactos de eventos extremos em setores como energia eólica, vinicultura, olivicultura, pecuária leiteira e ovina, tanto no Sul do Brasil quanto em diversas regiões do Uruguai.
Além disso, o centro de inteligência climática contribuirá para a geração de conhecimento científico e inovação, por meio do desenvolvimento de tecnologias e produtos, como ferramentas de monitoramento climático voltadas para o cultivo e a colheita de uvas e azeitonas — culturas em crescimento na fronteira gaúcha.
Parque Tecnológico Binacional
O Parque Tecnológico Binacional (Pates) será instalado em uma área de 10,5 mil metros quadrados, situada a apenas 200 metros da divisa com Rivera, em um terreno cedido pela Prefeitura de Livramento. O projeto tem como pilares o turismo, o agronegócio e a energia, com a sustentabilidade como eixo transversal.
O parque foi selecionado em edital do Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), gerido pelo Ministério do Planejamento e Orçamento. Em abril deste ano, o Focem aprovou um aporte de quase 6 milhões de dólares — o equivalente a mais de R$ 32,8 milhões. A liberação dos recursos está condicionada a uma contrapartida mínima de 15%, que será utilizada para a execução das obras e a aquisição de equipamentos, como um supercomputador para análises meteorológicas.
Coordenado pela Unipampa e com a participação de instituições como o Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) e a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), o comitê gestor também busca apoio do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), voltado ao enfrentamento dos impactos socioeconômicos e ambientais causados por emergências climáticas. Para atender a esse critério, o parque incorporou à proposta o Centro de Inteligência Climática. “A contribuição da UFSM tem sido decisiva para o avanço do projeto”, avaliou o professor Rafael Schmidt, da Unipampa e membro do comitê gestor.
A expectativa é positiva. A menção ao projeto feita pela presidente executiva do Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata), Luciana Botafogo, durante reunião do Conselho do Mercado Comum do Mercosul, foi considerada um sinal de apoio pelos integrantes do comitê. Na mesma ocasião, realizada em Buenos Aires, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência do bloco.
Dois parques, uma gestão
Como não é viável a criação de um único parque para atender todas as demandas da proposta transfronteiriça, o grupo de trabalho optou pela criação de dois polos interligados: um em Sant’Ana do Livramento e outro em Rivera.
“A proposta do parque binacional é fruto da articulação entre instituições e atores de ambos os lados da fronteira. Teremos uma operação coordenada, integrada e complementar entre Brasil e Uruguai, o que refletirá na gestão”, explicou o professor Rafael Schmidt. “Serão dois parques funcionando como um só”, resumiu. A administração será compartilhada entre as instituições participantes, com a Unipampa à frente da gestão inicial do lado brasileiro.
O lado uruguaio já está em estágio mais avançado, com o desenvolvimento do Parque Tecnológico do Norte. A iniciativa é liderada por entidades como a Universidade da República (Udelar), a Universidade Tecnológica do Uruguai (Utec), o Ministério de Indústria, Energia e Mineração (MIEM) e a Intendência Departamental de Rivera (IDR).
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