Polícia Civil prende seis pessoas em ação contra exploração sexual de menores
BRIANE MACHADO
Dente-de-leão
A quarentena tem nos tornado mais pensativos em relação a prioridades, imediatismos, classificações, padrões e convenções que antes não levávamos em consideração ou, quem sabe, não nos atrevêssemos a questionar aquilo que foi tão bem plantado em nossas mentes, seja por nossos ascendentes, seja pelo que a sociedade quer que sejamos.
Temos o estranho hábito de adquirir bens de consumo pensando em ocasiões certas para as suas utilizações.
Comprei um vestido para o aniversário da Maria, um sapato para combinar com a roupa do almoço da firma, as louças que servirão o jantar na noite de Natal, aquele perfume que será borrifado quando encontrar quem se ama.
Esquecemos de nos arrumar para o tempo presente e pensamos, ansiosamente, no futuro.
Talvez, algum desses bens gere certa lembrança do passado que dê um quê deprimente.
Classificamos tudo que temos de uma forma tão brutal com nós mesmos que só falta etiquetar cada peça do armário.
Vivemos pensando no futuro. Como se uma mancha de suco de uva naquela roupa que tanto gostamos fosse o motivo para o fim do mundo ou um colapso por não conseguir mais vesti-la - a menos que você não se importe com manchas.
Sinceramente, sou apegada em tudo que está guardado no meu armário, sei lá, parece que cada peça tenha uma história para contar, uma lembrança para se guardar em meio as dobras que são gentilmente empilhadas.
Entretanto, estamos em isolamento e não temos perspectiva temporal para voltarmos às nossas rotinas normais.
Algumas pessoas se foram e deixaram roupas com etiquetas, lençóis nunca usados, louças que não serviram os medalhões ao molho madeira, mas, apenas a poeira acumulada na cristaleira.
Perfumes ficaram nas caixas ainda seladas, vinhos não foram abertos, chocolates ficaram nos armários, livros não foram manuseados, cafés não foram bebidos, beijos não foram dados, abraços permaneceram guardados, palavras não foram ditas, desculpas não foram pedidas e nem aceitas, fotos não foram postas em porta-retratos, ligações foram perdidas, mensagens não foram respondidas, aquele vale-transporte ficou na carteira, a cerveja comprada para o almoço de domingo ainda está na geladeira.
Por qual razão nos guardamos e armazenamos tudo para o futuro?
Hoje, mais do que nunca, tomamos consciência do presente, que nada sabemos sobre o amanhã, e que o passado serviu para nos trazer até aqui.
Não deixe para depois o que deve ser feito agora.
Dance a sua música preferida, prepare o prato preferido da família e sirva acompanhado daquele vinho que ganhou do tio Euclides, leia o livro que estava guardando para as férias, limpe o seu armário e doe o que não vai usar mais - inclusive o cachecol laranja e verde que ganhou da tia Mirtes.
Borrife o seu perfume favorito e sinta o seu cheiro. Se alegre com isso.
Vista o seu vestido de formatura só para ver se ainda serve - se o zíper não subir, são as calorias da felicidade que estão habitando o seu corpo.
Responda o e-mail que está pendente, a mensagem que está no celular e não para de aparecer nas notificações, retorne à ligação perdida, declare seu amor a que ama, abrace o seu cachorro ou o seu gato.
Faça agora.
A vida é um dente-de-leão e não sabemos a hora que a brisa a tocará.
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