Ricardo Peró Job
Esvaziamento
A saída dos ministros Teich e Sérgio Moro do governo de Jair Bolsonaro acendeu o sinal amarelo para àqueles que, de má vontade, votaram no atual presidente. A maioria deste grupo votou para sacar do poder um grupo que, misturando incompetência e corrupção, causou a destruição moral e financeira do país. Outros, na esperança de que com a escolha de Guedes, finalmente o país ingressasse na economia do século XXI, e com a de Moro, desse um fim a criminalidade e impunidade que assolam o Brasil há séculos.
Teich substituíra um ministro eminentemente político, verdadeira vedete, que passou mais tempo dando entrevistas para canais de televisão do que de fato cuidando do combate à pandemia. Nos poucos dias que ficou no governo, Teich fez mais que seu antecessor: realizou um convênio com a Grã-Bretanha que possibilitará a fabricação pela Fiocruz da vacina de Oxford contra a covid-19 em solo nacional.
Moro preparou um projeto revolucionário de combate à criminalidade, mas este foi completamente desfigurado pelo Congresso, por falta de apoio e sob o olhar complacente do presidente Bolsonaro, então mais preocupado em proteger seus pimpolhos de uma suposta perseguição PF e da Justiça.
Agora, mais dois importantes integrantes da equipe de Paulo Guedes no Ministério da Economia, os secretários especiais Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização) também abandonam o navio. Motivo: desprestígio e falta de apoio governamental. O desmanche do grupo técnico/liberal, com as novas baixas, está chegando ao seu final. Falta apenas Tarcísio de Freitas e Tereza Cristina. Então, ficarão no governo somente os "ideológicos", se é que se pode atribuir a figuras intelectualmente tão precárias tal adjetivo.
Diante das últimas demissões, o presidente Jair Bolsonaro usou sua rede social para reafirmar que as metas de seu governo continuam sendo a responsabilidade fiscal e o teto de gastos. Disse ainda que o Estado está inchado e que deve se desfazer de suas empresas deficitárias. Infelizmente, mesmo que realmente assim desejasse, estará fadado ao fracasso. No Brasil, o crime compensa. Alguém duvida? Não estamos assistindo agora mesmo a criminalização da Lava a Jato e de seus membros e a vitimização daqueles que levaram o país ao fundo do abismo?
Mas voltemos ao tema de nosso artigo. O principal motivo da saída destas importantes peças do governo não foi apenas o comportamento errático do presidente e sua falta de apoio às políticas econômicas e de combate a corrupção. Na realidade, o principal motivo são efeitos de uma notória e insólita aliança entre STF e o Congresso, que resolveu ignorar os quase 59 milhões de votos que levaram Jair Bolsonaro ao poder, transformando o presidente numa espécie de rainha da Inglaterra. Para tal, o primeiro aproveita-se de sua imunidade e poder quase divino, fazendo interpretações bizarras da Constituição, reintroduzindo a censura no país e pondo em prática um avanço jamais visto sobre as atribuições do Executivo e Legislativo. O segundo (com quase metade de seus membros enrolados com a Justiça), com seus presidentes adiando pautas, articulando a derrubada de vetos presidenciais e com membros de oposição judicializando decisões tomadas pelo presidente e até mesmo pelas próprias Casas Legislativas. Tudo isso com o silêncio obsequioso e cúmplice de parte da grande imprensa, que teve seus projetos financeiros, imorais e de praxe, barrados pelo atual governo.
Infelizmente, o governo Bolsonaro aproxima-se cada vez mais em semelhanças com que o antecedeu, o de Michel Temer, tornando-se refém do STF e de políticos corruptos.
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