URUGUAIANA JN PREVISÃO

Ricardo Peró Job

Impunidade oficial

A pandemia de covid-19 no Brasil possibilitou uma verdadeira farra de solturas de todos os tipos de marginais. Somente no Rio Grande do Sul a Justiça soltou dois mil e duzentos presos, com a desculpa de que nos presídios, poderiam contrair o vírus, embora até agora nenhum preso no Estado tenha sido hospitalizado. Segundo tal raciocínio, nas suas casas ou nas ruas, não. A decisão, além de botar em risco a população, dobra o trabalho da polícia. Aconteceu o óbvio: nestes poucos meses, a polícia teve de recapturar, botando a vida em risco mais uma vez, 14% dos libertos. A turma voltou imediatamente a assaltar, matar e estuprar. Além disso, vinte e dois detentos no Rio Grande do Sul, o que corresponde a 13,9% dos homicídios, morreram poucos dias depois de deixarem a prisão. No mês passado, em Porto Alegre, soltaram um homem que deformou várias mulheres ao atirar ácido em seus rostos. Em São Leopoldo, um dos "soltinhos" foi flagrado pela polícia com 124 quilos de cocaína, 12 quilos de crack, seis fuzis 556, um fuzil 762, uma submetralhadora 9 mm e 5,5 mil cartuchos de fuzil. O mais perigoso assaltante de banco do Estado, o "Papagaio", condenado a 52 anos de prisão, também foi liberado. 

No Brasil, foram mais de 30 mil os liberados. Casos de soltura de bandidos perigosos e chefes de facções criminosas pipocaram por todo o país. O chefe do PCC do Paraná foi um dos libertados. Outro dos soltos foi o dublê de médium e tarado sexual João de Deus. Aliás, João não foi o único tarado a ser solto. A Justiça de São Paulo determinou que o ex-médico Roger Abdelmassih cumpra pena em regime domiciliar por causa da pandemia. O impacto desta decisão da Justiça sobre a política de segurança pública, que vinha se mostrando vitoriosa desde seu início no governo Temer, com grandes avanços na gestão de Sérgio Moro, e que ocasionou a queda da criminalidade em todo o país, ainda não foi calculado, mas certamente será enorme. Sem falar do impacto sobre as vidas dos cidadãos, especialmente dos mais pobres, que são os menos protegidos.

No Rio de Janeiro o caso é ainda mais grave. Com uma justiça acossada pelo crime organizado e muitas vezes corrupta, a soltura de presos transcende o surto da covid-19. Esta semana, um homem matou a própria mãe em um condomínio na Barra da Tijuca. De acordo com a delegada Cristiane Carvalho, da Delegacia de Homicídios da capital, ele foi preso três dias antes, suspeito de tráfico de drogas. Foi solto dois dias depois para responder em liberdade. Horas depois, matou a mãe.

Mas como se não bastasse a frouxidão da justiça carioca e a soltura em massa de bandidos, uma liminar concedida pelo ministro do STF, Edson Fachin, veio a agravar ainda mais a situação. O liminar atendeu a uma solicitação do PSB, proibindo operações policiais nas favelas Janeiro durante toda a pandemia. A decisão provocou imensa alegria entre os traficantes e demais bandidos dos morros, com direito a foguetório e a promoção de bailes funks. Correm na internet vídeos feitos por moradores mostrando menores de idade traficando abertamente nas ruas das favelas, alguns com "banquinhas", mesmo durante o dia.

Já entre os policiais cariocas, que arriscam a no enfrentamento do crime organizado, a decisão do ministro causou indignação. Segundo eles, foi criado um "protetorado do tráfico" nos locais, onde o poder público é impedido impor a lei. A pandemia, que ainda pode durar muitos meses no país, até mesmo anos em Estados pouco desenvolvidos ou saqueados, desorganizados e falidos como o Rio de Janeiro. Não há precedentes no mundo. Mesmo na Colômbia durante a era Pablo Escobar, pelo menos oficialmente, o crime organizado era combatido em qualquer lugar do país.

Além dos criminosos comuns, as cortes superiores aproveitaram para botar por terra grande parte do trabalho executado pela Operação Lava a Jato, soltando centenas de corruptos, sob a alegação de que por serem "doentinhos", poderiam morrer caso pegassem o vírus na prisão. Pobre país.

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