Ricardo Peró Job
O rei do Pindorama
O ministro Alexandre de Moraes se tornou o novo mandatário de Pindorama. Moraes é o relator do Inquérito 4.781, conhecido como inquérito das fake news, que corre no Supremo Tribunal Federal. Tal inquérito, aberto em 2019 pelo próprio presidente da Corte, ministro Dias Tóffoli, tem como objeto supostas informações falsas e ameaças contra o STF e também contra seus ministros.
O inquérito foi aberto depois de críticas feitas pelo procurador da Operação Lava Jato, Diogo Castor de Mattos ao STF em um artigo publicado no site O Antagonista. Na ocasião, o procurador acusou o Supremo de realizar um "golpe contra a operação" e chamou os ministros de "turma do abafa", numa crítica ao julgamento no STF sobre a competência das decisões sobre crimes eleitorais entre a Justiça Federal e a Justiça Eleitoral. Diante da abertura do inquérito, a Associação Nacional dos Procuradores da República protocolou um mandado de segurança para a sua suspensão, apontando-o como ilegal e inconstitucional por estar além das atribuições do STF, já que a este só pode instaurar investigações por conta própria em caso de crimes ocorridos dentro da área física do tribunal. Tóffoli também ignorou a separação entre quem acusa e quem julga, pois a acusação deveria partir do Ministério Público, e não do próprio STF. Foi ignorado. O Congresso, cujo advento das redes sociais fez com que seus malfeitos antes protegidos pela imprensa "amiga" fossem escancarados, gostou da medida do STF. A censura nas redes sociais é um sonho de longo tempo acalentado, principalmente pelos seguidores de Zé Dirceu e Lula.
Já assistimos a diversos golpes de estado, normalmente patrocinados por militares ou mandatários populistas com apoio destes, mas um golpe aplicado pelo Judiciário, com o apoio envergonhado dos líderes do Congresso, é uma inovação! Mas no Brasil, como cabe ao STF definir o que é legal e o que é ilegal, este decidiu que a Constituição pode ser ignorada e que seus onze membros podem até mesmo criar leis e anular decisões do Legislativo e do Executivo. Leis aprovadas no Congresso e atos perfeitamente legais do presidente da República são anulados vetados pelo STF sem a menor cerimônia, basta que contrariem a opinião de algum de seus membros.
Mas dando seguimento ao inquérito das fake news, na semana que passou a Polícia Federal, instada pelo relator do processo, ministro Alexandre de Moraes, o novo rei do Brasil, cumpriu 29 mandados de busca e apreensão em seis estados do país, atrás de "patrocinadores" de manifestações contra o STF. Usando como desculpa a ação inócua e ridícula de alguns malucos que apregoam em suas pífias manifestações o fechamento do Congresso, do STF e um golpe militar, a Suprema Corte - bota suprema nisso - além de pairar a cima de tudo e de todos, resolveu blindar-se de qualquer crítica, impondo uma censura hoje só vista em ditaduras como a da China, de Cuba ou da Coréia do Norte. Radicais apregoando ditaduras, do proletariado ou militar, nunca faltaram neste país ou em qualquer outro país democrático. A liberdade de opinião, por mais idiota que seja, é um direito fundamental.
Mas ao que parece, o ministro-rei sofreu um ataque de nervos diante da marcha promovida pela "perigosa" ativista política Sara Winter, e mandou prendê-la. A denúncia, enviada à 15ª Vara de Justiça Federal, diz que "Sara ofendeu o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, atingindo-lhe a dignidade e o decoro, utilizando-se de meio que facilitou a divulgação das injúrias (redes sociais), bem como ameaçou o ofendido de causar-lhe mal injusto e grave".
Realmente, Sara, uma "blogueira" baixinha de 28 anos é um perigo para a vida de Moraes e para a democracia brasileira. A moça, antes incensada pela esquerda, hoje criticada pela mesma, tem no currículo a fundação dos grupos "feministas" Femen e o BastardXs e uma participação no "grupo Pró-Mulher". Poucos anos depois, passou a lutar contra as pautas antes defendidas, incluindo a ideologia de gêneros e a legalização do aborto. Com vocabulário parco e nítida confusão ideológica, a moça, que tem milhares de seguidores, é um típico produto criado pelas redes sociais, carente de fundamentos socioculturais. O único perigo que Sara representa para a democracia é ter se tornado a primeira presa política no Brasil desde a abertura dos anos 80. Os que agora aplaudem as perseguições sofridas por seus adversários políticos, esquecem que amanhã também poderão se tornar vítimas desta mesma arbitrariedade. Portanto, parabéns para os novos mandatários, os ministros do STF, nossos novos déspotas esclarecidos. Pensando bem, alguns, nem tanto!
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