Rubens Montardo
A História se repete
No início do século XX, o médico, sanitarista e epidemiologista Oswaldo Cruz enfrentou a ira de ignorantes, fanáticos e demagogos ao desenvolver campanhas em prol da saúde pública. Ele combateu a febre amarela, a peste bubônica e a varíola, organizando e coordenando batalhões de "mata-mosquitos", encarregados de eliminar os focos dos insetos transmissores. Convenceu o então presidente da República, Rodrigues Alves, a decretar a vacinação obrigatória, o que provocou a rebelião de populares e da Escola Militar (1904) contra o que consideravam uma invasão de suas casas e uma vacinação forçada, o que ficou conhecido como Revolta da Vacina. Naquela época, a cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil, era uma das mais sujas do mundo. Houve um momento em que o ilustre médico foi apontado como inimigo do povo na imprensa, nos discursos da Câmara e do Senado, nas caricaturas e até nas modinhas de Carnaval. No entanto, Oswaldo Gonçalves Cruz (1872-1917) e a ciência venceram, para o bem de todos e do Brasil.
Após, em 1918, tivemos que enfrentar a Gripe Espanhola que vitimou milhões mundo afora, inclusive o presidente eleito do Brasil, Rodrigues Alves (que já tinha exercido um mandato entre os anos de 1902-1906). Com sua morte, assumiu o vice-presidente Delfim Moreira, num curto e conturbado período (15 de novembro de 1918 até 28 de julho de 1919), sofrendo durante sua presidência de uma doença que o deixava totalmente desconcentrado e desligado de suas tarefas, sendo que, na prática, quem tomava as decisões era o ministro da Viação e Obras Públicas, Afrânio de Melo Franco, que recebeu o apelido de "primeiro-ministro". De janeiro de 1918 a dezembro de 1920, estima-se que a Gripe Espanhola infectou 500 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população mundial na época, com 50 milhões de mortos, tornando-a uma das epidemias mais mortais da história da humanidade. A gripe espanhola foi a primeira de duas pandemias causadas pelo influenza vírus H1N1, sendo a segunda ocorrida em 2009.
Transcorridos 102 anos, na República Popular da China, surge o Coronavírus, desencadeando a primeira pandemia do século XXI. No Brasil, nas últimas semanas, estamos assistindo uma batalha no combate ao vírus, com cientistas de um lado e negacionistas de outro. Uns defendendo a vacinação em massa, quando alguma for aprovada; e outros, praticamente incrédulos em relação a sua necessidade e eficácia. Chegamos aos 200 mil mortos em nosso país. Temos a Fiocruz e o Instituto Butantã, em parcerias distintas, envolvidos na luta pela vacina. No Brasil contabilizamos 8,13 milhões de infectados; 7,27 milhões de recuperados e 203.580 mortos. No mundo são 91,5 milhões de casos; com 50,5 milhões de recuperados e 1.959.485 mortos. Na última quinzena, alguns países já começaram a vacinar. "Temos um Programa Nacional de Vacinação que é referência mundial, mesmo sendo um país em que não existem grandes investimentos em tecnologia, ciências e áreas afins. A vacina testada pela Fiocruz tem no mínimo 60% de eficácia; a testada pelo Butantã provavelmente tenha isso também. O que, acreditem, é muito bom: muitas das vacinas que controlam doenças no mundo todo, como gripe e BCG, são assim. Claro que queremos vacinas como a do sarampo, que protege mais de 90% da doença; ou da pólio, que protege completamente da infecção", destaca a professora, imunologista e pesquisadora do CNPq, Cristina Bonorino.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que está prevista para o dia 17/01 a decisão da diretoria do órgão sobre os pedidos de autorização emergencial das vacinas contra o novo coronavírus. Foram submetidas para análise na última sexta-feira (8) a vacina CoronaVac, do Instituto Butantan em parceria com o laboratório Sinovac, e a da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca. Precisamos focar e torcer para que tenhamos sucesso e possamos imunizar milhões de brasileiros nos próximos meses, e que a ciência e o bom senso novamente vençam a ignorância e a estupidez.
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