Rubens Montardo
Aos Professores do Brasil
Com orgulho sempre reverencio as escolas públicas em que estudei o Colégio Dom Hermeto e a Escola Elisa Ferrari Valls, que eram modelos de educação de qualidade no Rio Grande do Sul, nas décadas de 70 e 80, quando tive a honra de integrar suas turmas. Lamentável o estado em que hoje se encontram milhares de escolas brasileiras, com prédios sujos, abandonados, calçadas quebradas ou inexistentes, ou cercados de grades, imagem incompatível com o local que é palco de ensino, aprendizagem, lições de humanidade. Nenhum país do mundo logrou êxito em sua sociedade sem investir pesado em educação, a forma universal das pessoas conquistarem seu espaço, "subirem na vida". Abordo este tema porque tenho certeza que no 15 de Outubro, dia consagrado aos professores ouviremos novamente a mesma cantilena, de que educação é prioridade.
Primeiro, quero destacar dois países em que os professores são devidamente respeitados. No Japão, professor é uma profissão de prestígio, são tratados com o termo honorífico de sensei. Esse termo significa uma qualificação, autoridade, conhecimento superior e respeito em qualquer área. A cultura japonesa respeita tanto os professores que sabe que sem um professor, não é nem mesmo possível existir um Imperador. Aliás, outro fato notável é que o professor no Japão é a único cidadão que não deve se curvar diante do Imperador. Lá o candidato a professor, terá de fazer estágio por um ano com alguém que já dê aula há mais tempo. Isso faz com que ele possa ter um processo de adaptação e aprender na prática como é ser um educador. Quando se tornam professores, eles terão um dos melhores salários de servidor público. Isso porque, logo após o final da II Guerra Mundial, em 1945, para que não houvesse uma defasagem no ensino, o governo japonês determinou que os professores recebessem 30% a mais do que qualquer outro servidor público. Essa foi uma medida encontrada para que, mesmo diante da miséria e destruição em que o país ficou não faltassem educadores para reconstruir a nação.
Outro país que destaco é a Coreia do Sul, que hoje possui uma das forças de trabalho com maior escolaridade do mundo e é conhecido por sua obsessão com a educação, chamada de "febre da educação". Há 35 anos, os sul-coreanos eram mais pobres do que os brasileiros. O PIB (Produto Interno Bruto) per capital do país asiático era inferior ao do Brasil. Hoje, não há comparação possível e os números da Coreia do Sul são três vezes mais altos, segundo o Banco Mundial. O salto pode ser em grande parte explicado por uma revolução educacional. E a principal razão é clara: diferentemente do modelo brasileiro, a prioridade no país asiático são investimentos em educação básica. E no Brasil? A situação é desoladora, triste. O desrespeito e a forma degradante com que os professores são tratados é uma vergonha, um escândalo. Ninguém corta privilégios de integrantes do executivo, judiciário ou legislativo ou de outro órgão em que transitam alguns próceres da República. Por exemplo, um Senado com 81 parlamentares e mais de 9 mil servidores é um deboche, um escárnio. Uma justiça eleitoral que custa uma fortuna aos cofres públicos, os penduricalhos imorais que engordam contracheques em todos os poderes, nada disso é combatido, não há o menor resquício de que alguém queira acabar com esta farra, com estas castas.
Parece que os educadores são os grandes culpados pelo estouro em folhas de pagamento e crises nos governos estaduais e no federal. Em toda e qualquer reforma administrativa sempre as primeiras vítimas são os educadores. Muitos mestres aposentados sofrem com salários miseráveis e até parcelados, achatados e alguns tem que escolher entre comprar seus medicamentos ou uma alimentação adequada, ou até mesmo garantir uma moradia digna em sua velhice. Um país que trata professores assim, perpetuando injustiças e descaso com uma profissão tão nobre, jamais será uma potência social e econômica, uma nação justa e desenvolvida, está condenado a louvar os ignorantes e safados, aplaudir os demagogos, hipócritas, corruptos e cretinos que desfilam pela vida pública. Mas em nosso país parece-me que os professores cometeram um abominável "crime": educaram e ensinaram a aprender e apreender boas maneiras, conhecimento, sabedoria. Este "crime" é imperdoável. Neste dia e em todos os dias, externo meu reconhecimento e aplauso aos grandes professores que tive em minha vida escolar e universitária. Meu muito obrigado para todos, com eterna gratidão e respeito, pois os senhores e senhoras são os verdadeiros heróis do nosso Brasil.
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