Rubens Montardo
Professor Sanchotene Felice
A vida é um aprendizado diário, com suas vitórias e derrotas, alegrias e tristezas, e têm pessoas que pelo seu comportamento, ações e realizações deixam valiosos ensinamentos e obras, sendo portadoras de respeito e admiração, marcando de forma indelével sua passagem terrena. Estas pessoas são humanas, cometem erros, são falíveis conforme nos ensina a sabedoria divina, nas Sagradas Escrituras. Contudo, por suas incontáveis virtudes, têm seus defeitos minimizados. O professor José Francisco Sanchotene Felice foi assim. Homem de atitude, radical na defesa de suas posições e no amor por Uruguaiana. Conheci e convivi com o político e a pessoa. O intransigente, o turrão, ia facilmente às lágrimas ao menor afago de uma criança, ao simples aceno de um idoso ou frente a um elogio sincero e desinteressado. Em questões de saúde, era generoso e incansável em busca de auxílio, a qualquer tempo ou hora, seja quem fosse, amigo, adversário político ou até mesmo desafeto. Tinha um prazer imenso em ajudar. Sou testemunha de gestos de extrema grandeza do professor Felice neste sentido. Comunicador nato e arguto, sabia como poucos usar um microfone e redigir um texto que depois reiteradas revisões dele mesmo, eram aprovados. Era aficionado pelo correto uso da língua portuguesa. O uruguaianense Sanchotene Felice era Doutor em Ciências Econômicas e Livre Docente em Sociologia do Desenvolvimento, economista, sociólogo, educador, administrador público, Professor da UFRGS (Graduação) desde 1961; Superintendente da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade do RS (CNECRS), quando criou 52 educandários de nível médio em 36 municípios gaúchos (1961-1964); Conselheiro Federal de Educação; Pró-Reitor Acadêmico da UFRGS, participou da Reforma Universitária e implantação do Hospital de Clínicas; Pró-Reitor Administrativo da PUC-RS (1975) atuou na Reforma Universitária e na implantação do Hospital São Lucas; Deputado Estadual Constituinte (1987-1990), Autor da Lei dos Transplantes de Órgãos (pioneirismo nacional), da Lei que delimita as áreas de lazer, desporto e pesca na orla marítima gaúcha (Lei do Surfe), da Lei do Menor (estímulos às empresas que empregarem menores carentes), da Lei que determina a Vacinação contra a Rubéola. Foi proponente de 16% dos artigos da Constituição Estadual, destacando-se o art. 183 (financiamento de terra para pequenos agricultores); e foi Secretário de Estado de Administração e Recursos Humanos. Mas, foi como presidente da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (1975-1979), que liderou um recorde histórico, aumentou de 6.500 para 76 mil o número de menores carentes atendidos, idealizando projetos pioneiros em todo país (Lares Vicinais, Centros de Bem-Estar e Profissionalização Rural). Em sua Uruguaiana, criou na localidade de São Marcos, no interior do município, a Cidade dos Meninos. Duas vezes Deputado Estadual com profícua atuação e liderança no parlamento gaúcho. Todavia, sua grande obra foi edificada, quando aos 69 anos de idade, assume a Prefeitura de Uruguaiana, transformando a cidade num canteiro de obras. A partir de 1º. de janeiro de 2005 até 31 de dezembro de 2012, o professor fez um trabalho de resgate da autoestima da população de sua terra natal e imprimiu uma dignidade e respeito ao cargo de prefeito municipal. Ações e obras foram desenvolvidas, mais de 300, nas áreas de educação, saúde, habitação, ação social, esporte, lazer, agricultura, cultura, infraestrutura e segurança, entre as quais destaco a criação de centros esportivos, implantação da Esplanada da Justiça, academias ao ar livre, escola livre de belas artes, biblioteca, museus, restaurante popular, conjuntos habitacionais (casas e apartamentos), Centro de Convivência Comendador Bermúdez, investimentos no Hospital Santa Casa de Caridade, novo pronto socorro municipal, policlínica infantil, Instituto de Cardiologia, implantação da farmácia popular, Banco Municipal de Sangue, projeto de citricultura, praça dos Esportes e da Cultura, implantação dos polos educacionais no interior - Patrício Lopes, Dom Fernando e Crespo de Oliveira, revitalização do Mercado Público, novo prédio na escola Moacyr Ramos Martins e ampliação e reforma da escola de Educação Infantil Tia Mercedes, Saci Pererê, Vovó Chica, Cinderela, Casinha da Emília e Tia Nina, revitalização do Parque D. Pedro II, criação das escolas infantis Cecília Meirelles, Prado Veppo, José Maria Argemi Filho, Marília Sanchotene Felice e Mario Quintana, construção de postos de saúde na cidade e no interior do Município (João Arregui, Plano Alto e São Marcos), criação de praças e revitalização da praça Barão do Rio Branco e Argentina, construção do novo restaurante da praça e do café temático, implantação do Teatro Rosalina Pandolfo Lisboa, construção da UPA Zilda Arns, criação do Colégio Agrícola, implantação da Usina Municipal de Asfalto, criação do Carnaval Fora de Época, e o asfaltamento e recapeamento de ruas, que causou tanta polêmica, embora contando com ampla aprovação popular. Agora, sai de cena um cidadão atuante, o professor Sanchotene Felice (como ele gostava de ser chamado) e fica um legado incontestável em benefício público, em prol da sociedade, numa trajetória marcada por tantas realizações de um ilustre filho desta terra. Que tenha o merecido descanso!
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