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Talento

Uruguaianense conquista medalha da Obmep pelo terceiro ano consecutivo

Clarisse Amaral/JC - Uruguaianense de 14 anos conquista medalha da Obmep pelo terceiro ano seguido e agora sonha com o ouro nacional em 2025.

Enzo Pacheco Corrêa, de 14 anos, é um dos medalhistas da 19ª edição da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). O estudante do Instituto Estadual de Educação Romaguera Corrêa conquistou a medalha de ouro no estado e a medalha de prata na categoria nacional. A cerimônia de entrega ocorreu na Universidade Federal do Rio Grande (Furg), em Rio Grande, na semana passada.

O jovem já foi medalhista de bronze e prata em anos anteriores, e agora está competindo nas etapas da 20ª Obmep. Ele tem sonhos maiores: “Quero conquistar a medalha de ouro este ano, estou me preparando pra isso”. Essa dedicação já teve resultado na primeira etapa — Enzo gabaritou a prova.

Sobre sua preparação, ele destaca que estuda as provas dos anos anteriores e faz um sistema de marcação para voltar ao que não entendeu completamente. “Matemática é prática, então é preciso ir fazendo os exercícios, mas voltar nos que você errou para assimilar e não continuar errando.”

Há três anos, o estudante é contemplado com uma bolsa de R$ 300, paga pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Essa é uma das vantagens de ser medalhista da Olimpíada de Matemática. “Além da bolsa, nós também ganhamos materiais didáticos e um curso que, a cada etapa, também tem uma avaliação”, completou o jovem.

Iniciação Científica Júnior

O curso que Enzo se refere é o Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC), destinado a estudantes premiados pela Obmep. O objetivo da iniciativa é colocar o aluno em contato com questões do ramo da Matemática e prepará-lo para o mundo acadêmico e profissional. No PIC, o aluno participa de atividades orientadas por professores qualificados em instituições de ensino superior e de pesquisa.

O programa possui duas modalidades de ensino: presencial e virtual. Participam da modalidade virtual somente alunos que residem a mais de 30 km de qualquer polo do PIC presencial. Enzo realiza a modalidade virtual, e o último encontro presencial ocorreu no ano passado, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

A bolsa do CNPq é concedida aos medalhistas que acompanham todas as etapas do PIC. Essa estrutura é uma forma de manter os vencedores ligados à competição e dar condições para que tenham um desempenho ainda melhor no futuro. “Receber os materiais didáticos do PIC auxilia muito na preparação e foi importante demais na crescente dos resultados.”

E a escola?

O diretor do Instituto Romaguera Corrêa, professor José Luís da Silva, ressalta que Enzo, apesar de ser o maior destaque, não é o único aluno a avançar nas etapas da Olimpíada. “Nós desenvolvemos diversos projetos na escola, em várias áreas do conhecimento, promovemos feiras, mostras, sala de aula invertida, e aproximamos os conteúdos trabalhados da realidade daquele aluno”, destaca o diretor.

Enzo afirma que, por conta dessa metodologia, ele não sente um afastamento tão grande dos conteúdos trabalhados em sala de aula em relação aos que são exigidos na Obmep. “A prova é de raciocínio lógico, não fica claro na pergunta qual fórmula você tem que utilizar — precisa interpretar aquilo. Às vezes, se isso não estiver na sala de aula, pode gerar dificuldade.”

A matemática é o calcanhar de Aquiles de muitos estudantes brasileiros. Segundo o Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (Timss), publicado em 2024, mais da metade dos estudantes brasileiros no ensino fundamental não dominam conceitos básicos da disciplina.

“Um tédio”

A mãe de Enzo, Márcia Pacheco, conta que, no 1º ano do ensino fundamental, ela era chamada na escola “o tempo todo”. Certa vez, a professora pediu para os alunos escreverem o que achavam da escola, e ele respondeu: “um tédio”. Mas o que podia ter feito Enzo odiar o ambiente escolar acabou despertando a atenção dos professores, inclusive do diretor José Luís. “Nós começamos a desafiá-lo, deixá-lo ajudar as professoras nas aulas, e assim ele começou a gostar da escola”, conta o diretor.

Talvez em razão dessa experiência, os planos futuros de Enzo incluem se tornar professor de matemática. “Eu sei que os resultados na Olimpíada podem me dar oportunidades em universidades, mas quero seguir estudando matemática”, destaca.

Obmep

A Obmep é uma competição nacional criada em 2005 pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), com apoio do Ministério da Educação (MEC) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Inicialmente voltada apenas para escolas públicas, passou a incluir também as escolas privadas a partir de 2017.

O objetivo principal da olimpíada é estimular o estudo da matemática, identificar talentos e promover a inclusão social por meio do conhecimento científico e matemático entre estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio.

A Obmep é dividida em três níveis: o nível 1 para alunos do 6º e 7º anos; o nível 2 para alunos do 8º e 9º anos; e o nível 3 para estudantes do Ensino Médio. A competição ocorre em duas fases: a primeira é composta por uma prova objetiva com questões de múltipla escolha, aplicada nas escolas participantes.

Os alunos com melhor desempenho são classificados para a segunda fase, que consiste em uma prova discursiva mais desafiadora, focada na resolução de problemas matemáticos com argumentação lógica e criatividade.

A Obmep também premia escolas e professores com bom desempenho e tem forte impacto na identificação e estímulo de jovens talentos em matemática no Brasil. Em 2023, mais de 18 milhões de alunos participaram da olimpíada, abrangendo praticamente todos os municípios do país.

Ingresso nas universidades

A Obmep tem se consolidado como uma importante porta de entrada para o ensino superior no Brasil, especialmente para estudantes que se destacam com medalhas. Algumas universidades brasileiras adotam políticas de incentivo ao ingresso de jovens talentos premiados em olimpíadas científicas, como forma de valorizar o mérito acadêmico e atrair alunos com potencial elevado em áreas estratégicas. Esse tipo de ingresso, muitas vezes, dispensa o vestibular tradicional e funciona por meio de editais específicos ou sistemas internos de seleção por desempenho em competições científicas.

Uma das instituições que mais valorizam medalhistas da Obmep é o Impa Tech — novo curso superior do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), voltado à formação em Matemática, Tecnologia e Inovação. O programa oferece 80% de suas vagas para estudantes medalhistas em olimpíadas científicas, como a Obmep, OBM e OBI, priorizando medalhistas de nível 3 (Ensino Médio). A seleção ocorre por meio de um processo próprio, em que os candidatos submetem comprovantes de premiação e participam de etapas avaliativas, como entrevistas e análise de trajetória escolar.

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também mantém um sistema de seleção por “vagas olímpicas”, direcionado a estudantes que obtiveram destaque em olimpíadas do conhecimento. A Obmep está entre as competições reconhecidas pela universidade, e medalhistas de ouro e prata podem disputar essas vagas sem a necessidade de prestar o vestibular tradicional. As vagas são oferecidas em cursos de áreas como Matemática, Física, Química, Engenharias e Ciências da Computação, regidas por edital específico.

Outra universidade que adota essa política é a Universidade Estadual Paulista (Unesp), que oferece vagas reservadas a medalhistas de olimpíadas científicas desde 2020. Em processos anteriores, a Unesp chegou a disponibilizar cerca de 195 vagas em aproximadamente 30 cursos diferentes, incluindo licenciaturas e engenharias. O critério principal é a conquista de medalhas de ouro, prata ou bronze em olimpíadas reconhecidas nacionalmente, como a Obmep. A inscrição é feita diretamente pela plataforma da universidade, mediante envio de documentos comprobatórios.

Já a Universidade de São Paulo (USP) também implementou, nos últimos anos, um sistema semelhante de vagas para medalhistas de olimpíadas, especialmente voltado para aqueles com premiações em competições internacionais. No entanto, em 2024, a USP ampliou o programa e ofereceu 200 vagas em mais de 100 cursos por meio do Programa de Olimpíadas Científicas, contemplando também medalhistas nacionais, como os da Obmep. Embora ainda não seja uma política amplamente adotada por universidades federais como UFRJ, UFMG ou UFRGS, o modelo tem se mostrado uma alternativa eficaz de acesso ao ensino superior para estudantes talentosos da rede pública e privada.


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