pela primeira vez
IGP detecta droga semelhante a LSD no estado
Luciano Valério/JC imagem ilustrativa - fireção ilustrativa - Em forma de selo, droga pode causar surtos violentos e ideias de perseguição.
Uma droga sintética de efeito alucinógeno, com estrutura química semelhante ao LSD (ácido lisérgico), foi detectada pela primeira vez no Rio Grande do Sul. O trabalho foi realizado pelo Instituto Geral de Perícias (IGP), em parceria com a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Ao ser consumida, a chamada de ALD-52 é metabolizada pelo fígado, sendo biotransformada em LSD e passando a atuar da mesma forma.
A droga, em forma de selo de papel, foi apreendida em junho do ano passado, no município de Santiago. Duas amostras foram encaminhadas à Seção de Drogas Apreendidas do Departamento de Perícias Laboratoriais (DPL) do IGP, onde são analisadas as drogas provenientes de apreensões em todo o Estado. Os equipamentos usados ali conseguem “quebrar” a molécula, e, com o auxílio de bibliotecas virtuais, sugerir uma possível identificação da substância. Para isso, a amostra é comparada a outra, chamada padrão, que já existe nesta biblioteca. A pesquisa, feita no selo recebido para análise, não encontrou nenhum composto de referência – justamente por se tratar de uma NSP – Nova Substância Psicoativa.
Mas o trabalho continuou – desta vez, no laboratório da UFCSPA. Uma nova análise, feita no equipamento chamado espectrômetro de massas de alta resolução, conseguiu identificar a composição da molécula. A alta resolução do equipamento permitiu a obtenção de resultados mais precisos e a comparação com dados publicados na literatura. As técnicas empregadas dão garantia de que a substância é realmente a ALD-52. "É muito satisfatório fazer a identificação de forma inequívoca e ter certeza da qualidade do nosso resultado, tanto para fazer o alerta, quanto na questão técnica” afirma a perita criminal Milena Morsoletto, do DPL, responsável pelo caso. O Laudo ficou pronto em 30 de janeiro de 2023.
Dependendo da ação que causam no organismo, as substâncias são consideradas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como proscritas, tendo a comercialização proibida. Amostras de ALD-52 já haviam sido identificadas em São Paulo – a comunicação rápida à Anvisa é importante para que a substância entre rapidamente nesse rol, o que fornece os meios legais para responsabilizar quem a comercializa. O ALD-52 é proscrito desde fevereiro de 2022. A detecção no RS chama a atenção para uma possível volta do LSD, com uma nova ´roupagem´, para tentar burlar a fiscalização. “É importante estar atento a essa possibilidade”, afirma Milena.
A parceria entre IGP e UFCSPA foi celebrada em 2022. As instituições possuem um convênio que permite o uso dos equipamentos e a troca de conhecimentos. “Identificar novos compostos que a pessoa está consumindo é fundamental para as ações de vigilância, e para que a pessoa saiba que está usando algo que não é saudável. Fazer parte desse processo é fundamental para colaborar de modo mais eficiente para o bem social” afirma o professor Tiago Franco de Oliveira, do Grupo de Pesquisas em Espectrometria de Massas e professor da UFCSPA.
Efeitos
O LSD foi criado na década de 1950, para auxiliar no tratamento de pessoas com transtornos mentais. Na década de 1970 passou a ser utilizado de forma recreativa, em função de seu efeito alucinógeno. Como o ALD-52 precisa ser metabolizado pelo fígado, o efeito no organismo pode demorar a acontecer. Isso pode levar o usuário a consumir uma nova dose em busca de ação mais rápida, aumentando a exposição. O efeito é prolongado, ou seja, o indivíduo fica horas com todos os sentidos alterados, com paladar, visão e audição mais sensíveis. “A pessoa não controla o que vai acontecer. Pode ter uma sensação prazerosa em algum momento, mas também pode ter ideias paranóicas de perseguição e surtos violentos, em que perde a capacidade de julgar o que está fazendo”, afirma Tiago. O risco aumenta se for associado a outras drogas, como o álcool, por exemplo.
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