Rubens Montardo Junior
A sociedade kitsch
Não estranhem, a palavra está correta, não digitei errado e nem acordei na Alemanha. Em português, kitsch é um substantivo masculino, um objeto ou estilo que, simulando obra de arte, é apenas imitação de mau gosto para desfrute de um público que alimenta a indústria da cultura de consumo ou cultura de massa; atitude ou reação desse público em face de obras ou objetos com essa característica. A primeira vez que li sobre o tema foi num livro publicado pela editora Brasiliense que continha três artigos. Em um deles o autor destacava sua perplexidade ao chegar ao aeroporto de Praga, então capital da República Tcheca e ver duas pessoas vestidas com uma camiseta com o rosto do médico e guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara. E, num outro momento, quase a mesma cena foi observada pelo referido autor, na cidade de Nova Iorque. O homem da boina fora transformado em mercadoria e incorporado na sociedade de consumo.
Numa rápida descrição podemos enfatizar que: "Kitsch é um substantivo com origem no alemão que descreve uma coisa com mau gosto, no âmbito da estética. É um conteúdo criado para apelar ao gosto popular. Sendo uma coisa com pouca qualidade, muitas vezes a obra kitsch é sentimentalista ou sensacionalista. Verskitchen, a palavra em alemão que origina este termo, designa a fraude de imitar de obras de arte. Alguns exemplos de objetos kitsch são bibelôs, bichinhos de pelúcia, etc. Em sentido popular, a palavra kitsch tem um sentido pejorativo e pode ser traduzida por reles, brega ou cafona. Esta palavra começou a ser usada por volta de 1870, servia para descrever objetos que estão na moda, mas que são feitos sem rigor estilístico. O kitsch tem uma elevada aceitação do público, da cultura de massa, que recebe esses conteúdos passivamente, sem mentalidade crítica. Este estilo está relacionado com estereótipos artísticos, sociais e culturais, e substitui elementos do folclore. O kitsch também é uma questão de relatividade, porque o conceito de bom ou ruim é relativo. Assim, o que é kitsch para alguns não é para outros". Então, prezados leitores, o que seria kitsch hoje no Brasil? Ser adepto do Centrão, ter todos os "discos" da Anitta, assistir Datena e Ratinho, louvar o funk carioca, repudiar as vacinas, "emocionar-se" com a fadinha do skate ou com as motociatas de Jair Bolsonaro? Façam suas apostas, digo reflexões!
Retratos
O grande escritor e jornalista mineiro, Otto Lara Resende em seu romance O braço direito aborda, com maestria, o tema na página 12, a saber: "Meu receio é que o Antônio Pio, nosso benfeitor, venha a fraquejar. Dói dizer, mas depois de uma maldita cirurgia ficou lerdo até para falar e andar. Ainda hoje reparei nele, aéreo diante da galeria de retratos dos sócios beneméritos da Irmandade, cansado de conhecer um por um estes figurões, dependurados ali a fim de nos lembrar que foram para sempre esquecidos".
Gianotti
Morreu na última terça-feira, dia 27/07, na cidade de São Paulo, aos 91 anos de idade, o filósofo José Arthur Gianotti. Nascido em 1930, na cidade paulista de São Carlos, Gianotti é um dos maiores e mais respeitados pensadores brasileiros das últimas décadas, sendo professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), e tendo lecionado na França. Foi um dos fundadores do conceituado Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Seu pai se mudou para a capital do estado porque queria que todos os quatro filhos tivessem educação superior. Todos eles estudaram na USP. Ainda adolescente, fez amizade com Rudá de Andrade, filho de Oswald de Andrade. Passou a frequentar a casa, e lá conheceu Antonio Cândido e Vicente Ferreira da Silva, cujos cursos frequentou, antes de ingressar na USP, por sugestão de Oswald. Ingressou na Universidade de São Paulo em 1950. Foi iniciado nos estudos de lógica por Gilles-Gaston Granger e nos estudos de política por Claude Lefort. O professor Gianotti teve uma vida profícua em prol do saber, da cultura e do mundo acadêmico.
Escravidão
Já está disponível no mercado o Volume II, do livro Escravidão, do escritor paranaense Laurentino Gomes, que aborda o período compreendido entre a corrida do ouro em Minas Gerais até a chegada da corte de dom João VI ao Brasil. Laurentino também é o autor dos elogiados livros 1808, 1822 e 1889.
Oráculo
"O homem explora o homem e por vezes é o contrário". - Woody Allen (1935), escritor e cineasta norte-americano.
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