URUGUAIANA JN PREVISÃO

Rubens Montardo Junior

Uma prosa com Dr. Ulysses

O Brasil é um país maravilhoso, isto é quase consenso de quem aqui nasceu ou quem tem ou teve o privilégio de conhecer as terras de Pindorama. As belezas naturais, a sua grandiosa música e a capacidade de superação de seu povo, são sempre motivos de orgulho. Nos últimos tempos, tenho lembrado do saudoso deputado federal Ulysses Guimarães, um sábio na arte da política, que por décadas exerceu importantes cargos, sempre com lisura, altivez e coragem, sendo digno representante do seu estado natal: São Paulo. Dr. Ulysses, como era chamado, foi presidente da Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988), presidente da Câmara Federal, presidente nacional do antigo MDB e lutou bravamente pelo retorno da democracia em nosso Brasil. Nos tempos sombrios, com passos firmes e ereto, enfrentou gorilas, metralhadoras e cães em prol da liberdade de expressão, da tão sonhada democracia, e foi um dos líderes do Movimento Diretas Já. Um grande homem, infelizmente meio esquecido na história atual, pois virou moda idolatrarem patifes, mentirosos e até torturadores. No dia da promulgação da nossa Carta Magna no histórico 5 de outubro de 1988, Dr. Ulysses fez um discurso memorável, com um duro recado a favor da liberdade e da democracia. Sua voz ainda retumba e seu olhar ainda brilha em nossa memória, quando ele vocifera no parlamento: "Declaro promulgada. O documento da liberdade, da dignidade, da democracia, da justiça social do Brasil. Que Deus nos ajude para que isso se cumpra! ... Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. ...Traidor da Constituição é traidor da pátria. (...) Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações. Principalmente na América Latina", destacou. Este momento foi a sua grande consagração como homem público, como um parlamentar democrata e um dos artífices da redemocratização brasileira. Como nosso Brasil hoje carece de um deputado com esta envergadura moral, altivo, lúcido e portador de conduta e comportamento irreprocháveis. Em pleno século XXI, vemos a imbecilidade, a estupidez e a grosseria viraram sinônimo de autenticidade.
Tenho me questionado: o que pensaria do Brasil no atual momento, o Dr. Ulysses?  Quando o Presidente da República mente, ataca a democracia, desdenha de uma pandemia e da ciência, tenta jogar sua militância contra o  Poder Judiciário, junta-se ao que de mais vil e podre habita os escaninhos do poder, quer manter-se a qualquer preço pelo seu projeto pessoal e para desgraça do Brasil? Certamente, fosse o Dr. Ulysses presidente da Câmara dos Deputados, o nosso dublê de Jânio Quadros já teria sido colocado no seu devido lugar.
Na última semana, o sistema eleitoral brasileiro foi novamente atacado de forma leviana, pois não foi apresentado sequer um resquício de prova que levantasse a mínima suspeita pelo uso indevido ou fraudulento das urnas eletrônicas, implantadas desde a eleição de 1996. No entanto, iludidos, desinformados e néscios, saíram eufóricos e enrolados em bandeiras, como "exemplos" de patriotas, mesmo defendendo um projeto eivado de cretinice. Não contente, o mandatário fez ameaças às instituições e ao processo eleitoral, afirmando que se não for do seu jeito não teremos eleições em 2022. Este foi o mais grave ataque ao processo democrático, e nossas instituições devem dar a resposta precisa para estancar esta patifaria. Após defenderem que a terra é plana, temo que ainda veremos uma passeata pelo retorno imediato da máquina de "flite", como símbolo da eficiência, da modernidade.  Tempos sombrios e de obscurantismo, pois com quase 600 mil famílias dizimadas pelo Covid, o Chefe de Estado protagoniza atos deploráveis e não demonstra o menor sentimento por tantas vidas perdidas. Nunca visitou, nem a Fiocruz e nem o Butantã, que estão fazendo um trabalho que orgulha quem defende a ciência, a vida e os seus semelhantes, produzindo vacinas para que consigamos vencer esta pandemia. Nunca visitou um hospital para agradecer aos valorosos profissionais da saúde que, com abnegação e bravura, foram verdadeiros herois desde o mês de fevereiro de 2020. Mas, como ensina Chico Buarque: Vai passar. A única certeza que temos é de que tudo passa e, em pouco tempo, os arautos da vanguarda do atraso e da demagogia ocuparão seu definitivo e merecido lugar na sociedade: o completo esquecimento.

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