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Descaso

Escola Hermeto Bermudez retoma as aulas sem energia

Jairo Souza/JC imagem ilustrativa - fireção ilustrativa -

O retorno presencial dos alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Hermeto Pinto Bermudez (HB), ocorrido nesta segunda-feira, 21/2, foi iluminado somente pela luz do sol. A escola está há 15 meses sem energia elétrica, já perdeu alunos devido ao problema e não tem previsão para o fim das obras que devem restaurar a luz na instituição.

Segundo a diretora Marta Verônica da Silva, a situação de sua escola é um reflexo do "descaso" e "falta de respeito com a educação". Ela conta que a instituição, que possui cerca de 500 alunos, não tem condições de oferecer merenda de qualidade para os estudantes por não ter refrigeração. Água gelada e ventiladores também não estão disponíveis e tornam o calor mais um problema a se enfrentar.

Apesar disso, foi decidido pelo retorno das aulas, seguindo a definição da Secretaria Estadual da Educação (Seduc). Marta explica que apesar do problema, a volta das atividades era a melhor opção para evitar a perda de alunos.

"Nós tínhamos por volta de 700 alunos antes do problema [de energia]. Uma base de 200 alunos deixaram a escola. Os pais acabaram tirando as crianças porque acreditaram ser melhor do que continuar nessa situação", lamenta Marta.

Localizada no centro de Uruguaiana, o Hermeto Bermudez atende estudantes de cerca de 11 bairros. Marta conta que ouviu relatos de pais que queriam manter os filhos no HB pela proximidade, mas decidiram matriculá-los em escolas mais distantes pela falta de energia.

Mesmo com os problemas, Marta se diz contente com a adesão dos alunos no retorno presencial. Segundo ela, 80% dos alunos voltaram nesta segunda-feira e outros devem voltar ao longo da semana, já que faltas são comuns nas primeiras aulas, de acordo com a diretora.

Para lidar com as limitações estruturais da escola, as aulas estão acontecendo com horário reduzido e sem recreio até que a energia seja reestabelecida.

Já para contornar a defasagem no ensino causada pela pandemia e piorada pela situação atual da instituição, o Hermeto Bermudez vai oferecer aulas de reforço de matemática e português no sábado e domingo, através do programa Escola Aberta, instituído pelo Ministério da Educação. Marta acredita que a partir de março o programa de reforço já esteja operando na escola.

Segurança

A diretora conta que a falta de energia prejudica também a segurança da escola. Sem luz, a policial militar que morava nas dependências da instituição e era responsável pela vigilância teve que se mudar. Isso abriu espaço para que vândalos invadam o colégio a noite e no fim de semana. Segundo Marta, roubos e depredações tem sido observados com frequência.

"A brigadiana ainda vem aí pela manhã e pela tarde, mas sem luz ela não pode mais ficar pela noite, então invadem e quebram coisas, tem roubo, está difícil a situação, a escola está à mercê de vândalos", conta Marta.

Obras

A falta de energia começou quando um temporal em novembro de 2020 derrubou o poste de luz que abastecia o prédio da instituição. O governo do Estado chegou a começar a obra de conserto, no entanto, devido a problemas no projeto, ela foi suspensa.

Como medida paliativa, houve o fornecimento de um gerador, também por parte do Estado. Este equipamento, porém, deixou de ser usado por motivos financeiros e de segurança.

Marta explica que foi pago R$ 4,3 mil para colocação do óleo, mais cerca RS 3 mil para instalação do gerador, além de uma taxa que deveria ser paga por hora pelo uso do equipamento. Além do alto custo de manutenção, os fios de alta tensão do gerador ficaram expostos após sua instalação, o que poderia causar um acidente envolvendo crianças ou animais.

"No fim de semana, as crianças entram no colégio para brincar e nós tínhamos que vir aqui para dizer para terem cuidado com os fios. Eu decidi que não queria correr esse risco. Falei que só ia manter o gerador se o governo ou a coordenadoria de educação se responsabilizassem, mas não quiseram", expõe Marta.

As obras para restaurar a energia foram retomadas no fim do ano passado, após movimentação de vereadores e protesto de pais e professores. Contudo, a obra não foi finalizada e até agora.

Segundo ela, a GV Engenharia, empresa de Pelotas responsável pela obra, pediu aditivos para cobrir gastos que não estavam previstos no orçamento. Estes aditivos foram assinados pela escola, mas mesmo assim, a reforma continua parada.

A coordenadora regional de educação, Sara Cardoso foi a Porto Alegre nesta semana tentar obter respostas para a demora na finalização da obra. De acordo com ela, a empresa informou que ainda precisa contratar um seguro que será adicionado ao processo.

A assinatura deste seguro é responsabilidade da própria GV Engenharia e, segundo Sara, a empresa tem até esta sexta-feira, 25/2, para concluir esta etapa do processo. A coordenadora também afirmou que pediu mais rapidez por parte da GV na resolução dos trâmites burocráticos. 

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