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Vulnerabilidade

Nove em cada dez mulheres já sofreram violência em deslocamentos noturnos

Ilustração/Pexels - Pesquisa revela que trajetos noturnos concentram os maiores riscos de violência para mulheres.

Uma pesquisa dos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, com apoio da Uber, revela um cenário de extrema vulnerabilidade para mulheres que se deslocam à noite em busca de lazer. O levantamento indica que praticamente todas as entrevistadas, 98%, sentem algum grau de receio quando precisam circular após o anoitecer, e nove em cada dez afirmam já ter passado por episódios de violência nesses trajetos, independentemente da forma de locomoção. 

Essas agressões aparecem em diferentes intensidades, desde olhares invasivos e comentários sexuais até importunação, assédio, roubos e até estupro. Segundo a pesquisa, 72% já receberam investidas insistentes ou cantadas inadequadas, 35% sofreram importunação sexual e 34% foram alvo de assalto, furto ou sequestro relâmpago.  

O dado mais alarmante é o de violência sexual extrema: uma em cada dez mulheres relata ter sido estuprada durante deslocamentos noturnos, proporção ainda maior entre mulheres negras, que também enfrentam o racismo em 21% dos casos relatados. 

A insegurança faz com que muitas deixem de aproveitar a vida noturna, 63% já desistiram de sair por medo. O retorno para casa é considerado o momento mais crítico, 35% afirmam sentir maior vulnerabilidade na volta, porcentagem que sobe para 42% entre jovens. 

A maioria busca alternativas para tentar minimizar os riscos: 99% adotam alguma medida preventiva, como compartilhar localização; evitar ruas escuras; escolher caminhos mais longos, porém, mais movimentados; ou sair sempre acompanhadas. Não à toa, apenas 6% das mulheres circulam sozinhas nesses trajetos. 

De acordo com a delegada Caroline Huber, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Uruguaiana, o município ainda não dispõe de um levantamento específico sobre casos de violência contra mulheres durante deslocamentos noturnos. Apesar disso, a delegada afirma que a unidade registra “algumas ocorrências, sim, mas bem poucas”. 

Fatores estruturais e transporte 

A violência, embora onipresente, é mais prevalente quando as mulheres estão a pé e no ônibus. Por isso, a segurança é o fator primordial na escolha do modal para o lazer noturno, sobrepondo-se ao conforto e ao custo. Reflexo dessa preocupação, apenas 13% utilizam o transporte público (ônibus, trem ou metrô) como principal meio, enquanto 37% recorrem a carros por aplicativo. 

As entrevistadas associam a insegurança nos deslocamentos noturnos a falhas estruturais na cidade, compondo uma tríade de temores: a ausência de policiamento (principal fator), a presença de ruas desertas e a deficiência na iluminação pública. 

O estudo também ressalta a demanda por ações coletivas: 97% das mulheres consideram fundamental que bares, casas noturnas e outros locais de entretenimento possuam protocolos claros de atendimento para casos de assédio ou violência.  

Essa preocupação decisiva influencia as escolhas de consumo: 82% expressam preferência por frequentar locais que adotam diretrizes explícitas de proteção. No entanto, a realidade do acolhimento ainda apresenta lacunas: apenas seis em cada dez mulheres que vivenciaram constrangimento ou violência afirmam ter sido acolhidas pelo estabelecimento de lazer que frequentavam. 

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